Topo

Izabella Camargo muda rotina pós-Burnout: 'Não preciso mais de remédios'

Lucas Seixas/UOL
Imagem: Lucas Seixas/UOL

Daniel Palomares

Do UOL, em São Paulo

12/03/2020 04h00

Izabella Camargo viu seu nome ganhar espaço em toda a mídia após ser afastada da TV Globo depois de uma crise relacionada à síndrome de burnout. Em 2018, a jornalista já era apresentadora da previsão do tempo do "Hora 1" e do "Bom dia Brasil" na Globo há seis anos. O trabalho intenso durante a madrugada foi responsável por levá-la à exaustão e posteriormente, ao afastamento e rescisão do contrato com a emissora.

Hoje, Izabella mudou completamente sua rotina e dedica seu tempo a palestras em empresas. O tema abordado é justamente um alerta sobre os perigos do burnout. Em conversa com o UOL, ela explicou mais detalhes do seu novo dia a dia e também chamou atenção para os sinais do surgimento do problema.

"Primeiro, voltei a dormir no horário que meu corpo não adoece. Horário que o nosso corpo precisa. Não preciso mais tomar remédio para viver, dormir e acordar", comemora Izabella, que precisava de indutores de sono para adormecer e anfetaminas para acordar. Para a jornalista, o burnout não é somente uma questão de prevenção. "Continuei a fazer terapia. Mas eu já fazia todas as terapias que você poderia imaginar e continuei fazendo", explica.

Retrato da jornalista Izabella Camargo que conta sua experiência com a síndrome de burnout - Lucas Seixas/UOL - Lucas Seixas/UOL
Imagem: Lucas Seixas/UOL

"Estou compartilhando a minha experiência com pesquisas que fiz para que as pessoas se previnam de problemas como os meus. Como encontrar limites num mundo sem limites", conta.

Sintomas do burnout

A síndrome de burnout é um distúrbio emocional que leva ao esgotamento e exaustão. De acordo com Izabella, é uma doença ocupacional, ou seja, relacionada ao trabalho. Ela ainda informa que professores, médicos, jornalistas, advogados, servidores públicos e policiais são mais propensos a desenvolver o problema.

"Mais de quatro mil pessoas já me procuraram voluntariamente. Pessoas totalmente diferentes com os mesmos sintomas", conta Izabella. "O burnout é um freio, não é um fim. Temos que falar disso com muito cuidado e carinho. São 20 milhões de brasileiros com esse diagnóstico. Alguns não conseguiram recomeçar. Outras tiveram que mudar de área. Dificilmente, a pessoa volta para o mesmo trabalho no mesmo ritmo", explica.

"Só no ano passado, foram 20 palestras que dei. O que mais me chamou atenção foram os policiais de São Paulo. Eles são cobrados excessivamente por seus fracassos, dificilmente reconhecidos pelas conquistas e não podem errar. É um grupo que precisa muito de ajuda", conta.

Izabella defende que as pessoas costumam ignorar os sinais que o corpo dá sobre esse esgotamento, apostando em automedicação e cuidados paliativos. "Ninguém adoece de um dia para o outro. Mas vivemos num contexto que você vai se automedicando, nós mulheres passando maquiagem, vamos escondendo até onde podemos. Depois, não dá mais", lamenta.

A jornalista conta que passou dois anos sentindo os sintomas. Entre cinco especialistas que foram consultados, apenas o último, um psiquiatra, cruzou os sintomas com trabalho e estresse para diagnosticar o burnout. "O seu corpo vai falando com você".

Essa atitude de "ouvir o corpo", que Izabella ressalta sempre, é reparar em sinais como cansaço excessivo, manchas na pele, intestino irritado e até questões mais graves, como enxaquecas e problemas vasculares. "Depois que seu corpo já pediu ajuda de todas as maneiras e você não ouviu, ele vai atingir o seu órgão mais vulnerável: pode ser rim, fígado, útero, ovário", afirma.

O primeiro passo dessa jornada é sempre procurar ajuda médica e relatar todos os sintomas. "Buscar ajuda é um caminho de cura. Não adianta buscar só médico e remédio, a cura vai depender de você. É muito importante também procurar psicólogo e psiquiatra, ajuda a organizar as ideias", indica Izabella.

Retrato da jornalista Izabella Camargo que conta sua experiência com a síndrome de burnout - Lucas Seixas/UOL - Lucas Seixas/UOL
Imagem: Lucas Seixas/UOL

Volta ao jornalismo e novas ocupações

Com uma rotina menos atribulada que antes, Izabella esclarece que o problema de saúde não a impede de ainda se dedicar a muitas atividades. "Muitas pessoas tiram sarro dizendo que eu não paro. Falam 'A Izabella está dando uma palestra todos os dias'. Mas qual é o problema?", dispara. "Hoje, eu sei meus limites. O que eu sofro nas redes sociais é esse julgamento, pessoas analisando sem saber os detalhes. Hoje, só falo de um assunto para ajudar outras pessoas. [O burnout] pode acontecer com qualquer um de nós. Temos que olhar com humildade, compaixão, empatia. Entender que é um problema que pode só crescer", pondera.

Mesmo com suas novas ocupações, Izabella não descarta e inclusive torce por um retorno ao jornalismo. "Quero muito voltar. Já recebi convites, ainda não rolou, mas o desejo continua. Eu sempre fui reconhecida por transmitir credibilidade. Eu sei que represento um número grande de pessoas. A partir do momento que volto a trabalhar nos veículos, onde fiquei 23 anos e fiz uma carreira bem bonita, posso contribuir com muitas pessoas", comemora.

Até o final de maio, Izabella pretende lançar seu livro, "Dá um Tempo", propondo uma reflexão sobre nossa percepção e relação com o tempo. Ironicamente, a produção da obra começou antes mesmo de seu diagnóstico do burnout. "É a doença dos novos tempos. Lanço para que quem tiver acesso ao livro, não adoeça", torce.

"Quando você tem um excesso de acesso à tecnologia, você não vê limites. Hoje, você sai do trabalho e ele não sai de você porque você está consumindo seu cérebro se dedicando a ele. O burnout é doença ocupacional. A reputação das empresas fica sob risco. Todo mundo perde. A produtividade, o custo de afastamento... A empresa também perde. Os CEOs também podem adoecer, não são só os liderados. Ou a gente olha de forma inteligente para o que está acontecendo ou vamos ficar batendo a cabeça.", conclui.