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'Se eu continuar respirando, vou prosseguir na Globo', brinca Cid Moreira

Cid Moreira, que vem gravando seus podcasts no síto que possui no interior do Rio - Reprodução
Cid Moreira, que vem gravando seus podcasts no síto que possui no interior do Rio Imagem: Reprodução

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

05/05/2020 04h00

Quem estava com saudade do timbre grave, pausado e indefectível de Cid Moreira e está passando por surtos de ansiedade por causa da quarentena já tem um podcast para chamar seu: "Bom Dia, Cid", programa matinal recém-lançado pelo ex-apresentador do Jornal Nacional na Deezer.

Todos os dias, um episódio expresso de cerca de três minutos pinga na plataforma trazendo mensagens pessoais e reflexivas sobre a vida —coisa da qual o apresentador, com 92 anos, entende— e sobre o período de isolamento social. Temas e textos são criados e desenvolvidos por ele ao lado da mulher, a jornalista Fátima Sampaio, com algumas sugestões da Deezer.

Há palavras de sabedoria a respeito de memórias pessoais (episódio "Uma Aventura de Quando era Garoto"), sobre o sabor da esperança ("Vai Passar"), das relações familiares ("O que Importa"), dos bons pensamentos ("O Mistérios dos Bons Tempos") e da necessidade indelével de viver cada instante como se fosse único ("O Agora").

Resumindo, o podcast é uma auto-ajuda sonora, relaxante e clássica, conduzida por uma das vozes mais icônicas da TV brasileira, que para muitos tem poderes terapêuticos. O UOL conversou com Cid, que também comentou sobre Deus, sobre o contrato "vitalício" mantido com a TV Globo e a "saudadezinha" que ainda bate da bancada do Jornal Nacional, onde permaneceu por 27 anos.

UOL - Como surgiu a ideia de fazer um podcast?

Cid Moreira - Iniciamos conversas há três meses com o Gabriel Lupi, chefe de conteúdo da Deezer. Ele fez a proposta de criarmos 36 gravações. Chegamos a um acordo e estou trabalhando com a Fátima neste último mês. No meio de tantas notícias ruins, recebi um presente.

Cid Moreira e Fátima Sampaio - Rafael Godinho/UOL - Rafael Godinho/UOL
Cid Moreira e Fátima Sampaio
Imagem: Rafael Godinho/UOL

Desde o cinema, comerciais, TV e locuções dos versículos da Bíblia, a voz de Cid Moreira é famosa por transmitir paz, e talvez seja o que mais precisamos agora. Por que acha que isso acontece?

Não sei. Talvez por minha voz ser pausada, grave, com inflexões. Acho que, com isso tudo, as pessoas ficaram presas nessa sonoridade toda. Só pode ser isso.

Eu gosto do fato de minha imagem e voz remeterem a coisas familiares, casa, família, infância, avós. Acho que tudo tem a ver. Foi assim durante minha carreira toda e ainda é.

Nos podcasts, você fala de temas gerais e costuma passar por Deus. Por que que Deus se tornou tão presente no seu trabalho?

Muita gente não acredita, mas acredito em Deus desde pequeno. Não acredito que tudo aqui na Terra seja aleatório e sem sentido. Acho que existe, sim, um mestre que comanda toda essa orquestra. E acho isso um alívio e alento. Desejo passar esse sentimento a pessoas como eu. Para que elas vivam em paz e aproveitem a graça que é a vida.

Você já disse que pretende trabalhar até parar de respirar e, no ano passado, assinou um novo contrato de cinco anos com a Globo. Como ele funciona exatamente?

É um contrato que fiz de cinco anos, com opção de renovação por mais cinco. Quer dizer, se eu continuar respirando por mais cinco anos [risos]. Já estou com 51 anos de Globo. Acho que o contrato foi mais um agradecimento da emissora pelos meus anos de trabalho. Tenho alguns compromissos com eles, mas estou liberado para fazer comerciais, na TV e internet, com voz em off ou "ao vivo".

Eu me sinto feliz de continuar trabalhando na minha idade e ter a possibilidade de continuar falando com meu público, agora com muita flexibilidade.

Você já disse não ter saudades do tempo do 'Jornal Nacional', que foi uma fase que terminou quando deveria ter terminado. É verdade? Nada de saudade?

Dizer que não tenho saudade é meio radical. A gente tem uma saudadezinha, sim. E não tem como você voltar àquilo a não ser em momentos de nostalgia, por assim dizer.

O que acha do JN hoje? É melhor ou pior que na sua época?

Acho que o jornal melhorou muito. No meu tempo era analógico. Hoje é digital. Temos uma fotografia maravilhosa. A concepção é outra. Está mais solta. É um jornal moderno. Eu me orgulho de ter feito parte dele e continuo assistindo diariamente.

Como acha que sairemos dessa quarentena? Seremos pessoas melhores, mais interessadas no coletivo?

Acho que ainda teremos fases dolorosas. Não está fácil para ninguém. Para a população carente é devastador. Já passamos por momentos assim. Esse é o nosso mundo. Não é muito diferente dos tempos das guerras.

Quando era garoto, havia o medo da insegurança, da economia mundial oscilando. Agora vejo a saúde das pessoas em risco, com muita falta de conhecimento sobre um vírus. Nosso mundo virou de cabeça para baixo.

Sei que, por estar no grupo de risco, você vem se mantendo ativo no seu sítio em Itaipava (RJ), trabalhando, se exercitando. Que recado gostaria de dar ao brasileiro angustiado esse período tão difícil?

A resposta para a pergunta acima vale a pena ser publicada em áudio. Ouça abaixo toda a sapiência de Cid Moreira e, de preferência, a compartilhe com família e amigos.