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Colin pede liberação da cannabis e elogia Casagrande: 'Verdadeiro mito'

Letícia Collin e Casagrande em conversa sobre dependência química - Reprodução/Globonews
Letícia Collin e Casagrande em conversa sobre dependência química Imagem: Reprodução/Globonews

Colaboração para o UOL, em São Paulo

26/08/2021 20h40Atualizada em 26/08/2021 23h17

A atriz Letícia Colin, de 31 anos, participou de um bate-papo sobre dependência química na GloboNews para falar da experiência da sua personagem que sofre com vício em drogas, na série "Onde está meu coração". Ela também criticou a sociedade por tratar o assunto com preconceito, sugeriu a liberação da cannabis para ajudar a saúde e elogiou Walter Casagrande Jr., presente no debate, pela sua luta contra a dependência química.

Para fazer a série da plataforma do Globoplay, do Grupo Globo, a atriz passou alguns dias na Cracolândia, em São Paulo, para conversar diretamente com quem sofre com o vício em drogas para a construção da personagem e declarou que o tema precisa ser tratado sem o 'olhar moralista e preconceituoso' para ajudar as pessoas.

Me identifico profundamente com o dependente químico no ponto de partida. Essa sensação relatada muitas vezes de solidão, insegurança, nervosismo e ansiedade social, eu reconheço tudo isso em mim. Como eu sou uma pessoa que trato há muito tempo o transtorno de humor, ansiedade e depressão e sou usuária de drogas regulamentadas e regularizadas, os remédios, eu me sinto muito na mesma [...] Inclusive, eu acho que a questão da droga a gente olha por uma ótica moralista, irônica, muito preconceituosa e, na verdade, cada um encontra uma maneira de lidar com a sua tristeza, com a sua compulsão, dificuldade de viver, essa superação.

Quando eu tive na Cracolândia passando aquela experiência de alguns dias conversando com usuários e conhecendo as suas histórias, eu me senti de igual para igual. Isso é uma quebra de paradigma muito importante pra mim e acho pra nossa sociedade. Não é nos colocar, me incluo nesse grupo por ser uma pessoa que usa medicamentos por transtorno de humor, à margem dessa discussão, mas, sim, no centro da discussão. Todos nós estamos no centro. Esse momento da mudança precisa acontecer. Não só o homem branco eurocêntrico, mas todos nós. O centro se alargou e todos nós com todas as nossas diferenças e com as nossas vulnerabilidades. Droga é uma questão de saúde e não de polícia.

Combate ao vício em drogas

Letícia Colin contou que sua personagem é uma profissional da saúde cheia de sonhos para ajudar as pessoas, mas acaba surtando quando descobre que a 'vida não é controlável'. Assim, ela acaba vendo nas drogas um caminho de acolhimento já que encontrava dificuldade para se abrir com as pessoas.

A minha personagem na série, a Amanda, vem de uma família de médicos. Então, o pai dessa personagem é ilustríssimo. Ela quer tanto superar o pai, melhorar e não aceita o ciclo natural da vida. Ela perde um paciente no hospital que é uma coisa que eventualmente médico de pronto-socorro vai passar. Ela é uma residente, uma mulher muito jovem saindo do ambiente profissional, onde você tem o conhecimento, mas não é tão concreto. De repente, ela vai para um ambiente que não são controláveis, a gente não controla a vida. Nós não somos ensinados a aprender a lidar com isso e a Amanda acontece a mesma coisa. Ela pira mesmo, tem surta e elege o crack, que é uma droga fortíssima e devastadora, que tem um sistema de recompensa muito rápido, né. As pessoas acham que o crack, por exemplo, é uma droga barata. Uma pedra custa R$ 10. Se uma pessoa passa a usar 40, 50 pedras por dia, imagina quanto a pessoa tem que conseguir de dinheiro para sustentar esse vício.

A atriz ainda fez questão de trazer a reflexão de que é preciso tomar cuidado com a pressão do tudo perfeito na vida e levantou questionamento se a abordagem social para lidar com a dependência química está sendo aplicada corretamente no Brasil.

Então, essa personagem é, extremamente, humana porque ela gostaria muito de dar conta das coisas, ser a melhor médica da família e percebe que não dá. Aí, ela sucumbe, não consegue assumir isso diante do pai, mãe e o corpo médico ali, que essa relação sobre vida e morte, que a gente falha, erra e precisa pedir ajuda. Acho que a nossa sociedade produz esse nível de sociedade que precisa encontrar um acolhimento e, às vezes, a droga está ali estendendo a mão. A droga está em toda parte e em todo lugar. Ela é proibida pra quem? É proibida para serviço de quê? Quem está ganhando dinheiro com isso? Pra onde vamos caminhar com esse posicionamento social e político das drogas. É uma discussão profunda e necessária de se fazer essas perguntas.

Casagrande é exemplo

Letícia Collin se emocionou ao falar que existe, sim, caminhos para buscar a cura da dependência química. Ela diz crer que o fato de a pessoa aprender a se ver e ouvir é um passo fundamental para ter o autocontrole.

Eu acredito na palavra como cura. Acho que a gente precisa verbalizar e tentar nomear os nossos medos, as nossas ansiedades, os nossos demônios, porque nomeando a gente vai dando contorno para eles... Acho que a psicologia, a terapia que você escolha, elas vão nesse caminho de expressão pessoal individual fundamental para o ser humano. Se escutar, se olhar e suportar a própria imagem, suportar a sua própria dor. Isso seria muito saudável pra todos nós.

Após Casagrande contar seu relato na luta contra as drogas, a atriz elogiou o ex-jogador de futebol pela força para dar a volta por cima e o classificou como 'verdadeiro mito' - termo para elogiar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por apoiadores - devido à sua história de vida.

Vivemos em uma sociedade que a gente tem medo de ser frágil, medo de ser triste e medo de acolher e falar sobre isso. Por isso, é tão revolucionário e emocionante quando o Casagrande vem aqui, ele que é nosso herói. Ele é tão herói que a vida inteira todo mundo na minha casa é Palmeiras ama o Casagrande, entendeu? Realmente, essa coisa do mito, você é o verdadeiro mito. Único. São os atletas do esporte que a gente reverência.

Liberação da cannabis

No encerramento de sua participação, a artista lamentou a fase de ódio e ataques gratuitos nas redes sociais e propôs a reflexão de que a descriminalização das drogas seria benéfica para acabar com o tráfico - além de ajudar em tratamentos médicos.

Nessa fase de muito ódio que a gente tá vivendo politicamente e da não aceitação da diferença, isso adoece a nossa sociedade. O Brasil está ficando doente porque não tem espaço para as nossas diferentes, o feminino, o negro, os índios. Então, por isso, dessa dor vem o grande escape para as drogas. A liberação da cannabis e a descriminalização das drogas iria muito a reduzir de mortes de jovens no tráfico e potencializar tratamentos.