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Com falsa equivalência, Bial pergunta sobre eleição a ministro da ditadura

Pedro Bial comparou candidaturas de Lula e Bolsonaro e pediu análise de Delfim Netto sobre futuro da democracia - Reprodução
Pedro Bial comparou candidaturas de Lula e Bolsonaro e pediu análise de Delfim Netto sobre futuro da democracia Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

13/10/2021 10h35Atualizada em 13/10/2021 12h55

O apresentador Pedro Bial perguntou sobre o futuro da democracia brasileira, assegurada pela Constituição Federal, com as eleições do próximo ano a Delfim Netto.

Delfim foi o ministro da Fazenda entre 1967 até 1974, além de ocupar outros postos no governo militar durante a ditadura. No mês passado, o economista disse ao UOL que assinaria o AI-5, instrumento de repressão que caçou direitos políticos e censurou jornalistas, novamente.

Mesmo com o histórico de contribuição com o governo instaurado após o golpe militar, o jornalista questionou o ex-ministro sobre a próxima eleição do Brasil o chamando de "professor" no "Conversa com Bial" de segunda-feira (11).

Já ouvi de gente da direita e da esquerda que essa dicotomia direita/esquerda tem que ser substituída pela real dicotomia que nos desafia, que é passado e futuro. A gente olha. Para o ano que vem, para a eleição, o eleitor olha e ele não vê o futuro. As duas candidaturas da frente são do passado. Não são, professor? Pedro Bial

O pleito ocorrerá com as urnas eletrônicas e com a participação popular, diferentemente do que ocorria na ditadura sem liberdade política, Bial ainda insinuou as candidaturas de Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que aparecem em primeiro e segundo lugar.

Bial ainda comparou as duas alternativas como equivalentes. Contudo, se for candidato pelo Partidos dos Trabalhadores, Lula será lançado por um partido de esquerda criado pelo movimento operário da década de de 80, justamente na abertura política, participante das "Diretas Já", e não é candidato da "extrema-esquerda" do Brasil.

Já Bolsonaro se identifica com a extrema-direita — teve encontro público com a deputada alemã de extrema-direita Beatrix von Storch, vice-líder do AfD e neta do ministro das Finanças de Adolf Hitler, e já atacou verbalmente o STF (Supremo tribunal federal), além de participar de manifestações com teor golpista.

Bolsonaro - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Beatrix Von Storch e Bolsonaro
Imagem: Reprodução/Instagram

Na entrevista ao UOL no dia 28 de setembro, Delfim indicou que vai votar em Lula. O economista ainda disse que Bolsonaro é agressivo e que ele não será reeleito.

O governo Lula foi um governo de muito boa qualidade ainda que tenha sido ajudado pelos aspectos externos, com o grande choque de commodities. Sempre foi uma pessoa extremamente agressiva. Bolsonaro tem disposição para guerra. Ele é incapaz de uma acomodação. Delfim Netto

Delfim manteve contato com Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff até 2012, segundo o ex-ministro da ditadura. Em 2016, à Folha de S. Paulo, ele se definiu como "grande amigo" das duas gestões.

Em 2018, ao colunista Josias de Souza, Delfim foi lembrado como "execrado pelo PT durante a ditadura" a "um conselheiro econômico de Lula nos dois mandatos do petista na Presidência da República", com elogios do economista ao ex-presidente como "única alma democrática do PT".

Delfim ainda foi sondado para assumir a pasta da Fazenda na gestão de Dilma em 2015 e teria aconselhado Michel Temer (MDB) na presidência.

Palpite na eleição

Segundo pesquisa do Data Folha em 17 de setembro, Lula mantém larga vantagem sobre Bolsonaro.

Na pesquisa Ipespe divulgada no final do mês, o ex-presidente lidera com folga a preferência nas intenções de votos, tanto no primeiro quanto no segundo turno — Bolsonaro perderia para Lula, Ciro Gomes (PDT) e empata com os governadores João Doria (PSDB) e Eduardo Leite (PSDB).

O regime de ditadura no Brasil teve a existência de eleições para vereadores, deputados, senadores, prefeitos e até para governadores. Mas todo o processo era controlado pelos militares que estavam no poder e sem o pluralismo partidário — haviam apenas dois partidos criados por ordem da ditadura.

Delfim, "o professor" respondeu que o país não soube "construir uma alternativa" para o ano que vem, ainda que não tenha começado a corrida presidencial.

As duas [candidaturas] são déjà vu, as duas já deram o que tinham que dar, são bananeiras que já deram cacho. Delfim Netto

Voto de Huck e 'polígrafo' com Lula

Não é a primeira vez que Bial se envolve em polêmicas com as eleições.

Luciano Huck revelou no programa do ex-apresentador do "BBB" que votou em branco em 2018, quando o pleito era disputado por Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (então no PSL e hoje, presidente, sem partido).

Eu votei em branco na última eleição, é o que eu devia ter feito e fiz com bastante tranquilidade. Os dois candidatos que se apresentavam naquela época, eu não me sentia representado por nenhum dos dois. Luciano Huck

Contudo, Huck alegou que Bolsonaro poderia ter "uma chance de ouro" com a eleição.

Luciano Huck - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Luciano Huck e Pedro Bial
Imagem: Reprodução/TV Globo

Outra fala de Bial foi lembrada por seguidores. O apresentador disse ao "Manhattan Connection", na TV Cultura que só entrevistaria o ex-presidente Lula com o uso de um polígrafo.

O equipamento observa mudanças fisiológicas (pressão sanguínea e pulso) da pessoa questionada e, qualquer sinal de nervosismo, independente da culpabilidade da pessoa, é apontado por ele. O uso do aparelho como teste para a verdade é questionado.