Negócio de família

Como Karina Sato, irmã de Sabrina, virou uma das mais bem-sucedidas agentes de artistas do país

Débora Miranda Do UOL, em São Paulo Julia Rodrigues/UOL

"Quando a Sabrina saiu do 'Big Brother', o Boninho chamou meu pai e eu para conversar. Ele disse: 'Vocês vão ficar um pouco assustados, a Sabrina deu um resultado muito grande aqui fora, o Brasil teve muita identificação com ela, ela não vai conseguir ir a uma farmácia nesta semana. E vocês vão ter que dar muito amor a ela, a pessoa sai do programa e fica perdida. Outra coisa: vocês precisam de dinheiro agora? Se não, selecionem o que ela vai fazer'. Lembro que fiquei com aquilo na cabeça: selecionar o que ela vai fazer."

Dezessete anos depois, Karina Sato não esquece do momento que transformaria para sempre sua vida. A advogada, irmã de Sabrina Sato, acabou virando um dos nomes mais importantes de agenciamento de artistas no Brasil, responsável pela carreira de uma das artistas e influenciadoras digitais mais relevantes e bem-sucedidas da atualidade.

Apesar de nunca ter sonhado em trabalhar na área artística —"eu segui o sonho da Sá"—, a posição de Karina nunca foi atrás da irmã famosa. As duas —junto do caçula, Karin— trabalham lado a lado na Sato Rahal Empreendimentos Artísticos, escritório que começou informalmente para administrar a carreira de Sabrina e que hoje conta com cerca de 20 artistas nas mais variadas áreas de atuação, incluindo Dona Kika, youtuber, mãe do trio e referência de trabalho duro para os três desde que eram crianças.

Empoderadas? Karina define de outra forma: Somos corajosas e independentes. Foi essa força que as impulsionou a aceitar o desafio proposto por Emílio Surita, quando Sabrina fazia parte do "Pânico", de abrir um escritório que cuidasse da carreira de toda a trupe. Decisão que muitos anos depois fez com que Karina se visse diante de um dos momentos mais delicados de sua vida: a negociação com a Record para que Sabrina tivesse um programa solo —e, consequentemente, dissesse adeus aos amigos humoristas. Profissionalmente, mas não só.

Trabalho e vida familiar tendem a se misturar no núcleo Sato Rahal. "É porque a gente não tem horário. Aí vira família. A pessoa tem que estar dentro da nossa casa", afirma Karina, que, durante muito tempo, trabalhou em jornada dupla, atuando como advogada no Grupo Votorantim durante o horário comercial e, à noite, no escritório da família. Achou, por isso, que nunca teria marido nem filhos.

A vida tomou outros rumos. A advogada, que quando criança sonhava ser jornalista, apaixonou-se, casou-se, teve duas crianças. Largou um dos empregos e hoje se dedica exclusivamente ao mundo do entretenimento. Em entrevista ao UOL, entre uma gargalhada e outra, ela conta como a vida mudou após a decisão de Sabrina em participar do "BBB", dos muitos negócios que administra hoje, de como lida com dinheiro e de como faz questão de dedicar tempo à família.

Todo o mundo faz escolhas erradas, sempre. Mas acho que as mais importantes a gente fez as certas.

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No camarim do Bial

"A Sabrina cursava jornalismo quando decidiu fazer o vídeo para se inscrever no 'BBB'. No mesmo mês, o SporTV foi fazer um casting na faculdade dela para um programa, acho que era 'Zona de Impacto' o nome. Ela foi chamada para os dois. Perguntei o que ela queria fazer, ela disse que ia para o 'BBB'. 'Acho que vai ser legal, vai ser divertido, vou tirar férias', ela brincou. Foi decisão dela, mas apoiamos.

Enquanto ela estava lá, eu fui ficando surpresa pela repercussão aqui fora. Todas as roupas que ela estava usando, meia colorida, calcinha de bichinho, tudo começou a vender. As marcas começaram a ligar falando 'eu quero fazer as meias da Sabrina', 'eu quero fazer as calcinhas da Sabrina'. Minha mãe passava tudo para mim.

Aí eu registrei a marca Sabrina e, quando ela saiu do programa, já tinha três contratos para assinar, de licenciamento. Eu já tinha até feito a logo dela.

Eu trabalhava na Votorantim, e a empresa sempre me apoiou muito. Quando a Sá foi para o paredão, o meu diretor na época comprou as minhas passagens, reservou o hotel e falou: 'Karina, você vai para lá, mas a única coisa que eu te peço é para você não aparecer. A gente é muito discreto aqui dentro'. O Bial, então, me colocou no camarim dele e assisti a tudo de lá."

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Como ser ex-BBB?

"Naquela época, já tinha essa história de a pessoa sair do 'BBB' e fazer um monte de eventos pelo Brasil.

Era a hora em que eles ganhavam dinheiro e depois acabava. Trabalhavam para caramba, mas eles sabiam que tinha um tempo.

Quando a Sabrina saiu, o Boninho chamou o meu pai e eu para conversar e falou: 'Vocês vão ficar um pouco assustados, a Sabrina deu um resultado muito grande aqui fora, o Brasil teve muita identificação com ela, ela não vai conseguir ir a uma farmácia nesta semana. E vocês vão ter que dar muito amor a ela, a pessoa sai do programa e fica perdida. Outra coisa: vocês precisam de dinheiro agora? Se não, selecionem o que ela vai fazer'.

Ele foi ótimo, falou muita coisa legal para a gente. Eu lembro que fiquei com aquilo na cabeça: selecionar o que ela vai fazer. Mas logo o 'Pânico' já entrou em contato. Primeiro queriam que ela fosse dar entrevista. Mas, quando chamaram duas vezes na sequência, eu falei para ela: 'Eles estão te testando. Acho que vão te chamar para ficar lá'.

Ela foi, amou os meninos, voltou falando: 'Gente, parece que eles são meus irmãos!'. A Globo chamou para 'Malhação' e depois para 'Da Cor do Pecado', mas aí ela já estava no 'Pânico' e disse que não dava para fazer. 'Quero ficar no 'Pânico', estou amando. E tenho certeza de que eles vão para a TV.' Foi uma aposta dela."

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Uma salinha perto de casa

"Depois que ela entrou no 'Pânico', o Emílio [Surita] me falou: 'Monta um escritório. A gente nunca teve empresário, você cuida da gente'. Eu tinha acabado de me formar. Disse a ele que eu tinha um emprego de que eu gostava muito, na Votorantim, mas que ia ver se conseguia. Na época, o Karin, nosso irmão caçula, fazia estágio no Santander. Perguntei se ele estava disposto a sair do estágio para ficar no escritório. Ele topou.

A gente tinha uma salinha perto de casa, lá na Vila Clementino, mas não imaginava que seria tanto trabalho [risos]. Contratamos, então, a Monique, que está conosco até hoje, ela tinha 16 anos. Eu fui cortar o cabelo e comentei com a minha cabeleireira que precisava de alguém proativo. Ela falou que tinha uma sobrinha que era muito esperta, uma gracinha. Aí a Monique veio. E depois eu trouxe meu primo de Penápolis, que é o Rodrigo e está com a gente há 12 anos. E começaram a vir outras pessoas com o tempo.

O salário que a Sá ganhava no 'Pânico', no começo, era pouco, mas decidi contratar alguém para vesti-la. Foi nosso primeiro investimento. Chamamos o Yan [Acioli, que foi stylist de Sabrina por mais de uma década]. Ele morava em Brasília e queria começar a trabalhar com moda. Um amigo indicou, mas disse que ele não tinha onde morar em São Paulo. Eu falei: 'Se ele for legal pode morar em casa'. Aí ele veio, a Sá gostou dele, e ele ficava em casa com a gente. A mãe dele me ligava para saber se ele estava comendo."

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Não tinha vida

"Fiquei uns oito anos sem tirar férias. Mas minha motivação para trabalhar tanto nunca foi o dinheiro. Eu não ligo para o carro que eu tenho, eu não ligo para onde eu moro. Para as crianças eu valorizo o melhor colégio que eu puder dar, é isso que eu quero. Não sou muito materialista. Mas, se acontece alguma coisa boa para alguém que trabalha conosco, se um artista consegue um contrato com que sempre sonhou, é a mesma coisa que se fosse para mim.

Neste tempo todo, eu estive disposta a só trabalhar. Entrava na Votorantim de manhã, saía às seis da tarde, vinha para o escritório, trabalhava até as três da manhã, ia para casa, tomava banho e dormia pouco. Tinha dias em que eu virava, não dormia. Eu não tinha vida, tanto que acabei vários namoros [risos].

Eu achava que não ia ter uma família, que não ia casar nem ter filhos, que isso não fazia parte de mim. Eu estava muito feliz como estava. Mas tem coisas que não são planejadas, principalmente o sentimental. Por isso que, quando eu decidi ficar com o Felipe [Abreu, marido] e ter uma família, eu sabia que precisava abrir mão de alguma coisa.

Quando a Sá saiu do 'Pânico' para ir para a Record, eu estava grávida de nove meses do Felipinho e ainda na Votorantim. Estava para fazer essa mudança [de carreira], porque eu sabia que ia ser complicado, que administrar uma família ia ocupar o tempo de uma das empresas [risos].

Mas essa transição da Sabrina foi muito difícil. A nossa conversa com o Emílio sempre foi muito aberta, e eu tive que pela primeira vez segurar uma informação tão séria. Mas eu sabia que se eu chegasse para ele e falasse: 'Emílio, a gente está negociando com a Record', a gente não ia. Não ia porque ele ia falar 'fica', e a gente ia ficar. E estava na hora de a Sabrina ir.

A gente sentiu segurança na negociação da Record. A gente sentiu que eles estavam vendo-a como a gente queria que ela fosse vista, que estavam dispostos a cuidar dela."

A decisão e a mudança foram difíceis. Cortar os laços. Não porque nós queríamos, mas porque eles ficaram muito sentidos, por muito tempo. E a gente entende, claro. Mas deu tudo certo. O Felipinho nasceu, a Sabrina foi para a Record naquele mês, e eu saí da Votorantim. E o 'Pânico' inteiro saiu do escritório. O Ceará falou que ia continuar, pois confiava muito na gente. O Emílio falou: 'Então você tem que sair do 'Pânico'. Foram mudanças sofridas, mas foram boas.

Karina Sato, sobre a saída de Sabrina do "Pânico"

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Cuide da sua irmã

"Sempre fomos muito próximas, desde criancinha. Eu ficava à noite com ela fazendo os trabalhos de escola. A minha mãe falava muito para a gente: 'Você tem que cuidar da sua irmã'. E eu tive muito essa relação mais de mãe, de proteção com ela. Eu lembro que ela chegava da escola e eu ficava brava, falava: 'Sabrina, tem que fazer tarefa, vamos parar de brincar'. Um dia eu fiquei tão preocupada que ela estava com a lição atrasada que eu fiz o livro inteiro [risos]. Era um sarro.

A gente dá tanto valor ao que a outra fala, que se ela fala um negócio, eu vou pelo que ela falou. Ela também. Se não fosse pela Sabrina eu não trabalharia com entretenimento. Segui o sonho dela, mesmo. A gente só não fala muito de dinheiro, isso nunca foi um problema. E nem sempre conversamos de trabalho. A gente bloqueia, fala do meu pai e da minha mãe, faz planos de viagem. Sabe relação de irmã?

Se não é para elogiar alguma coisa da outra, a gente não diz nada. Acho isso muito bom. Já teve namorado meu de quem ninguém gostou, e a Sabrina nunca falou um A da pessoa. É uma relação de respeito."

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Não fica pedindo dinheiro para marido!

"Somos corajosas e independentes. Mas isso é de família, a minha avó era assim, depois a minha mãe. A minha mãe sempre trabalhou muito e sabia que ela tinha que depender dela mesma. E sempre disse isso para a gente. "Não fica pedindo dinheiro para marido, pelo amor de Deus!" Desde que a gente era criança ela falava isso.

De trabalho a gente não tem medo. Sempre fomos assim. Às vezes, a gente está morto, mas se anima, vai e faz. Minha mãe é minha referência profissional. Ela poupa muito. Eu falo: 'Mãe, você não é pão-duro, você é financista. Você gasta dinheiro com as coisas certas'.

Ela sempre nos contou que meu avô veio do Japão num navio, com dois anos, que a família dele passou fome. Ela sempre diz que a vida dá voltas e que, enquanto estamos ganhando dinheiro, temos que poupar. E a gente sempre poupa.

Todo o mundo faz escolhas erradas, sempre, mas acho que as mais importantes a gente fez as certas. O que ajudou foi escolher as pessoas [que trabalhariam conosco]. Apareceu um monte de gente errada pelo caminho, mas elas acabam saindo... Naturalmente. É um leão por dia."

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Esta reportagem faz parte de uma série do UOL Entretenimento, com histórias de mulheres que não necessariamente são famosas ou estão em cima do palco, mas que se tornaram referências no universo da arte.

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