Cultura e diversão: pare de ler um livro e vá assistir "A Fazenda"

Eis que Ricardo Feltrin avisa: a atual temporada de "A Fazenda" pode ser a última. Minha reação inicial foi pensar “bem feito”, mas logo refleti: apesar dos problemas que se repetem há 10 anos (como o discurso repetitivo do apresentador e a edição modorrenta), o programa sempre reúne grandes nomes do folclore nacional. Isso costuma compensar as falhas da produção. "A Fazenda" é um grande estudo sobre personagens trágicas, cômicas e / ou lamentáveis. Trata-se de um sofisticadíssimo entretenimento.
A série desse ano finalmente engrenou, com muitas coisas acontecendo o tempo todo. Está imperdível, a ponto de ter tramas tão cativantes quanto nossos livros preferidos.
Então precisamos salvar "A Fazenda", OK? Você pode fazer sua parte simplesmente começando a assistir ao programa e convencendo outros três amigos a fazerem o mesmo.
Reuni abaixo alguns argumentos no intuito de convencê-lo de que é necessário nessa difícil missão.
Nahim em “O Homem Cordial” (Sérgio Buarque de Holanda)
Nahim e Marcos conseguiram feitos incríveis nesses últimos dias: convenceram o público que é razoável torcer pelo sucesso, ainda que momentâneo, de figuras como Yuri e Dinei. A ferocidade com que Nahim atacou Yuri na votação da semana causou espanto.
Logo que o "BBB" entrou em sua sexta ou sétima temporada, lá na década passada, uma das principais críticas que se fazia é que em pouco tempo os participantes estariam escolados na arte do reality show. Seria de conhecimento público os padrões que acarretam na vitória em programas dessa estirpe.
Quando temos a oportunidade de prestigiar rompantes inconsistentes como os de Nahim, fica claro que ninguém aprendeu nada. Melhor assim, é lógico.
Marcos em “O Poder do Hábito” (Charles Duhigg)
Marcos foi expulso do "BBB", impedindo que o público tivesse a chance de eliminá-lo com pompa e circunstância. Depois de cometer mais alguns despautérios com sua parceira de confinamento, ele está na berlinda. É a chance do público finalmente fazer justiça com as próprias mãos, mas aviso desde já: acho difícil que as fãs do nobre doutor, que continuam a demonstrar fortes sintomas de síndrome de Estocolmo, permitam esse aguardado descarte.
Ana Paula em “Perdoa-me por me traíres” (Nelson Rodrigues)
A mais famosa das irmãs Minerato é uma das personagens de maior complexidade do nosso bestiário tropical. É impossível analisá-la sob a ótica simplista do que é certo e errado - Ana Paula reside nos tons de cinza. Fica difícil entender quais são suas pretensões ao manter-se conectada com Marcos depois de todos os absurdos que ocorreram ao longo da última semana. Fica difícil entender até se existem pretensões. A fascinante Ana Paula vai vivendo, depois vê no que dá. E tenta esquecer rapidamente do que viu para continuar seguindo em frente.
Dinei em “Homem que é homem não dança” (Norman Mailer)
O ex-jogador do Corinthians sofre de insegurança travestida de uma imparável falastronice. Dinei não consegue cumprir o que promete aos outros, tampouco o que planeja para si mesmo. Cavou a própria vaga na roça dessa semana por conta de uma bravata desnecessária, para provar que “é homem”. Acho que vai se dar mal.
Flavia em “Casais inteligentes enriquecem juntos” (Gustavo Cerbasi)
Marcos falou que ela está fingindo o tempo todo na Fazenda, pois é atriz. Se estiver certo, o que é sempre muito difícil, o nobre doutor poderia chamá-la de Gal Gadot, pois Flávia Viana está encarnando com muita inspiração uma espécie de Mulher-Maravilha dos desaplaudidos.
Embora os trogloditas da casa fiquem disputando a vaga de macho-alfa do confinamento com muitos gritos e dedos em riste, é Flavinha quem vai tomando conta dos espaços e liderando boa parte da casa com muita firmeza. Talvez seja a grande história dessa edição, vamos ver o que vem por aí.
Conrado, Rita e Aritana em “Cem anos de solidão” (Gabriel Garcia Marquez)
O mau humor de Conrado, Rita e Aritana chega a ser comovente. Todos os três tem uma nuvenzinha pairando sobre suas cabeças 24h por dia. Dificilmente desmontam o cenho franzido, reclamando pelos cantos sobre o quanto os outros são lamentáveis e a vida é um grande desperdício de tempo.
Não consigo nem entender como eles toparam voltar para um esquema de reality show e confinamento. Eles certamente preferiam ter ido ver o filme do Pelé. Pode não parecer, mas é muito divertido vê-los sofrer desse jeito com as coisas mais banais do mundo.
--
Espero que esse texto consiga comover o público que está virando as costas para a atração rural, além de motivar os patrocinadores a tirarem o escorpião do bolso. Compartilhe esse texto com seus melhores amigos e envie por e-mail para suas corporações favoritas.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.