Sem assunto nem poesia, sobrou só agressividade em "A Fazenda"
Existe uma agressividade latente tomando conta da reta final de "A Fazenda". Os discursos inflamados estão saindo do controle, criando um ambiente inóspito para o convívio sócio-cultural. Se fosse uma instalação de arte no Teatro Oficina, terminaria com os empreiteiros de Silvio Santos derrubando tudo.
Como contraponto, veja o caso do boxe, um esporte sabidamente violento. Muitos atletas tem aposentadorias difíceis por conta dos efeitos das porradas na cabeça. Não apesar, mas talvez justamente por conta disso, serviu como ponto de partida para ótimas análises do século 20 sobre a condição humana.
A histórica peleja entre Muhammad Ali e George Foreman no Zaire (atual Congo), em outubro de 1974, foi o cerne da questão de diversos estudos, documentários e de um livro em especial que mudou a vida de muita gente. “A Luta” é uma das grandes obras do escritor Norman Mailer, que conseguiu transformar a crueza de uma disputa como essa em um lirismo digno das melhores ficções.
George Wesley Bellows pintou impactantes quadros remetendo a lutas de boxe amador. Colocou em tela algumas questões prementes sobre nossa odisseia terrestre. E nem vou entrar em maiores detalhes sobre a saga de Rocky Balboa, sabidamente um tratado sobre questões éticas, políticas e sociais da América dos anos 70 e 80.
O que eu quero dizer com tudo isso, na verdade, é muito simples: - a beleza do confronto não reside na sordidez da violência, mas na poesia do que cada lado do ringue representa. Um programa como "A Fazenda" tem um ringue de muitos lados, mas nenhuma poesia.
Com os atuais desdobramentos das intrigas, ficou claro que não houve um tema central nessa temporada do programa. Foi a sordidez da agressão verbal e psicológica versus a paulatina defesa desses pontos, que foi ganhando contornos também violentos. Não há uma narrativa central, apenas a aleatoriedade típica dos insanos.
Ali era o anti-establishment, Bellows mostrava os subterrâneos da alma e Rocky era o mais proeminente representante da classe trabalhadora. Na Fazenda, tudo o que nos resta é o absurdo. Não o absurdo de Albert Camus ou Jean-Paul Sartre, mas o absurdo de Rodrigo Carelli. Por mim, tudo bem. Tá quase acabando. Voltamos a qualquer momento com novas informações.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.