Adrilles: Vitória no paredão não salva julgamento precipitado de Ana Paula
Vaidade de vaidades, tudo é vaidade. A janela do deslumbramento dá vista ao próprio ego inflado. E é o buraco onde afunda a visão das coisas. No "BBB", a fogueira de vaidades sempre queima as visões. Ana Paula errou na forma agressiva da acusação. E, por um lance de sorte, acertou ao mirar no foco do conservadorismo típico do público do "BBB".
Laércio, que dentro do programa, nada fez de essencialmente monstruoso, foi alvo de acusações virtuais por seus gostos um tanto politicamente incorretos. Em suas redes sociais, o senhor de barba azul curtia páginas de apoio ao uso de armas, de curiosidades sobre nazismo e relativizações sobre racismo; fazia apologia a sexo com adolescentes, fazia brincadeiras sobre ícones religiosos. Foi alvo de um massacre poucas vezes visto na história do programa em menos de dois dias.
Laércio não se enquadra no molde típico esperado para um herói que represente o brasileiro comum. Nem socialmente, nem sexualmente, nem religiosamente. É um outsider, o que não necessariamente implica dizer que seja um vilão. Ana Paula, por sua vez, foi salva pelo seu erro acertado intuitivo, de mirar frontalmente naquilo que o público rejeita.
Mas o erro acertado de Ana não salva o julgamento precipitado que fez, nem a salva da probabilidade do maior dos erros fatais da história do "BBB": a vaidade. De volta do paredão, ela se arroga uma justiceira que fará com que caiam as máscaras.
O "BBB" não tem como trancar a construção simbólica de seus personagens entre os muros. As criações, os julgamentos de caráter e personalidade são projeções de identificação ou repulsa do público. Os personagens confinados, em tempos virtuais, são submetidos a uma total investigação de suas vidas pessoais. Justa e injustamente.
A única máscara que não desgruda do rosto da maior parte dos participantes do "BBB" é a máscara da cegueira causada pela luz do orgulho. Voltar de um paredão não é exatamente sinônimo de justiça lá dentro. Laércio, no caso, foi eliminado por uma razão muito mais externa ao convívio que por um comportamento seu dentro da casa.
O "BBB" não tem como trancar a construção simbólica de seus personagens entre os muros. As criações, os julgamentos de caráter e personalidade são projeções de identificação ou repulsa do público. Os personagens confinados, em tempos virtuais, são submetidos a uma total investigação de suas vidas pessoais. Justa e injustamente.
Assim como é relativamente injusto o conceito de justiça em um jogo de convivência. No "BBB" e na vida, você é obrigado a competir, a superar alguém. Por um emprego, por uma mulher, por uma vaga na final. Você tem amigos que também são adversários. Esboça afinidades e antipatias.
O critério é o de um julgamento rápido e necessariamente sempre precário por sua rapidez de juízo, que sempre se escora numa circunstância particular, que não necessariamente diz tudo sobre o caráter ou a personalidade do julgado. E agora me responda, caro leitor. Estou falando sobre o "BBB" ou sobre sua vida? Você é sempre justo na pressa de um julgamento circunstancial?
*Adrilles Jorge é jornalista, escritor e ex-participante do "BBB15"
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