Topo

Adrilles: Acabou o amor no "BBB"?

A amizade no "BBB" fica a reboque do jogo, não exatamente das afinidades, que mudam de acordo com a maior ou menor proximidade meramente estratégica de alguém - Reprodução/TV Globo
A amizade no "BBB" fica a reboque do jogo, não exatamente das afinidades, que mudam de acordo com a maior ou menor proximidade meramente estratégica de alguém Imagem: Reprodução/TV Globo

Adrilles Jorge

Colaboração para o UOL

18/02/2016 17h21

Uma realidade ficcionada que traduz uma ficção criada do sonho do telespectador. "BBB". Pessoas costumam apaixonar-se não sempre por alguém, mas se apaixonam pela vontade de amar, se apaixonam pelo amor em si. Amor fraterno, de amizade e amor romântico, pra todo gosto. E veem seus heróis criando paixões falsas e verdadeiras, quase crendo em todas elas. "BBB". Realidade ficcionada. Ou ficção romântica do telespectador que se engana voluntariamente para continuar crendo no amor que se cria.

Pois bem. Nada de amor concreto neste "BBB16". Apenas estratégia, articulação, confronto. A amizade fica a reboque do jogo, não exatamente das afinidades, que mudam de acordo com a maior ou menor proximidade meramente estratégica de alguém. 
 
Munik e Geralda tinham pavor inicial de Ronan e agora o acolhem como o filho pródigo, perdoado muito mais por agora compartilhar votos que por qualquer afeto mútuo.
 
Tamiel, o bom moço argumentativo, se desdobra em generosidade para Dona Geralda, que dela desconfia por votar nele quase toda hora. Generosidade cristã ou estratégia de bom mocismo?
 
Geralda combina votos sorrateiramente com seus companheiros de jogo mas diz se isentar mineiramente de fazer conchavo e revela seu amor democrático não focando amar ninguém mais que seu estilo mineiro de jogo.
 
Ana Paula parece amar seu próprio carisma acolhedor de seu conceito difuso de justiça que cria sua própria razão muito particular.
 
Cacau e Matheus: Um único semicasalzinho pré-teen - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Cacau e Matheus: Um único semicasalzinho pré-teen no "Big Brother"
Imagem: Reprodução/TV Globo
E o amor romântico? Um único semicasalzinho pré-teen. Matheus chora romanticamente porque diz querer se divertir. De preferência parece querer chorar longe das lágrimas pueris de Cacau, por quem se apega pelo contexto do jogo romântico que o fez permanecer na casa.
 
O jogo. É só esse o foco da edição. Um jogo de convivência que mais parece uma partida futebol americano bem brucutu e cru, sem afetos. Falsos ou verdadeiros. Nada de amor, nada de amizade. Tudo interesse e cálculo. Na edição passada do "BBB", foi passada uma terna amizade entre dois que se perdoaram e construíram uma aliança a reboque de uma amizade. Espectadores gostaram. Era um alívio. Um vento frugal no meio do furacão da truculência.
 
Também na edição passada os "semicasais" foram todos rejeitados pela maior parte do público. Fadiga de autoengano. Ou interpretação falha de atores não profissionais num show de realidade ficcional. Maus ventos que sopram nesta edição. Que talvez imitem uma realidade cética aqui de fora em relação a relacionamentos.
 
O real do "BBB16". Alianças em torno de grana, poder e fama. A amizade é mero detalhe. Amor uma invenção romântica piegas.
 
Mas sem a pieguice que esboça uma tentativa de realidade amorosa, o que sobra? O cinismo cético em relação ao afeto? A percepção de que  amor e amizade são construções vazias em torno de interesses maiores como grana e fama? Grana e fama pra comprar e ganhar o que? Mais relações – falsas – de amor e amizade artificiais?
 
Eu, hein...
 
*Adrilles Jorge é jornalista, escritor e ex-participante do "BBB15"