Adrilles: Desbocada, autoritária e nada discreta, Ana Paula é "antimineira"
O folclore sobre o mineiro é vasto: discreto, esquivo, desconfiado, esperto, traidor, maluco, adaptável às circunstâncias, contraditório etc. Todas características que formam uma persona singular multifacetada que não cabe em caráter fixo.
Três mineiros no "BBB16" (30% da população atual do programa) adaptando-se mais ou menos aos moldes da mineiridade. Além de outros amineirados de ocasião.
Matheus sobreviveu e sobrevive pelo caráter simpático e ensaboado que sabe agradar a todos. Começou por atrair a simpatia da doce Cacau, para pescá-la em definitivo com seu discurso chove não molha de quem esquenta e esfria as expectativas da moça – e do público – que se veem numa enrascada mornamente mineira. Ficou no jogo por isso. A aparente limitação intelectual do rapaz e suas fofocas aparentemente éticas e sem más intenções são seus chamariscos populares dentro da casa. Porque mineiro esperto é o que se finge de idiota para cativar a idiotice democraticamente distribuída entre seus pares.
Assim como Matheus, dona Geralda agrada (quase) a todos. Pela fofoca (também sempre ética e a serviço do bem, segundo seus princípios) adocicada por sua fome que a vitimiza no Tá Com Nada; pela aparente gentileza de vovó que mostra sua força pela graça e fragilidade. Só não pisem no calo da senhora, que se inflama quando a acusam de combinar votos, que nas últimas semanas têm sido "coincidentemente" sempre os mesmos da turma de Ana Paula.
Geralda e Matheus, como bons mineiros, claro, sabem como quase nunca serem cobrados lá dentro por suas decisões. Ou pela aparente falta delas. Devem ter se sentido tolhidos por ter de optar pelo grupo de Ana no paredão em que a moça enfrenta Juliana. Porque a escolha objetiva, com encargos de responsabilidade, é o pressuposto da crise existencial do bom mineiro.
E sobra Ana Paula, a mineira antiamineirada, para explodir quase todo o folclore sobre mineiridade. Desbocada, histérica, histriônica, autoritária, nada discreta, ostensivamente objetiva, nada ensaboada. Não faz ninguém escorregar pelo seu discurso nada enviesado. Vai empurrando de supetão, aos solavancos de sua neurose carismática, e finca o salto agulha de suas raivas ou paixões desenrustidas, com a mesma classe – inclassificável ou desclassificada – nos cadáveres vivos que tentam atravessar seu ponto de vista.
Eu disse explodir "quase todo o folclore sobre mineiridade". Porque Ana, como boa mineira, é racionalmente maluca. E aos doidos racionais, é permitida a maior das virtudes mineiras: a contradição, uai.
PS: sem serem mineiros, Tamiel, Cacau e Adélia vivem amineiradamente com o jogo paradoxal de parecer não querer jogar nem se posicionar em nada e de se martirizarem em tudo, promovendo um ‘’antijogo’’ que se articula na discrição. Ou na fuga, para ser menos mineiro. Ser mineiro é um estado de espírito, mais que geográfico, ok. Mas lembremos do velho ditado mineiro: ‘’a esperteza, quando é demais, come o esperto’’. Parecem os três em estados de autoingestão. O público não costuma digerir muito bem este tipo de mineirismo. Muito menos o mineiro, que desconfia até de si mesmo. Principalmente.
*Adrilles Jorge é jornalista, escritor, ex-participante do "BBB15" e mineiro
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