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Adrilles: Sem Ana Paula, BBB virou filme sobre o nada com elenco da RedeTV!

Ana Paula virou um zumbi virtual carismático no "BBB16" - Reprodução/TV Globo
Ana Paula virou um zumbi virtual carismático no "BBB16" Imagem: Reprodução/TV Globo

Adrilles Jorge

Colaboração para o UOL

09/03/2016 13h12

Imaginem um filme europeu existencialista sobre o tédio universal e o nada. Agora coloquem no filme o elenco de palco de um programa da RedeTV! ou do SBT. Essa é a configuração atual do "BBB16", com a morte recente de Ana Paula - a Macunaíma de saias sem caráter definido e carisma incisivo.

Incorporem a esse elenco insosso uma edição grandiloquente, soberba, épica, com um texto poético e filosófico de Herr Pedro Bial falando da mediocridade e mesquinharia e pequenez de seus personagens como se fosse uma história bíblica de reis e messias. E vocês têm no tédio aparente a revelação máxima da natureza humana.
 
Mais, mais: botem na trama um personagem morto mas sempre presente na subtrama - Ana Paula, o zumbi virtual carismático -, que assombra os vivos que não saem literalmente da sombra de uma morta mais viva que eles, influindo em votações e na dinâmica da história. E vocês têm – não a melhor - mas a mais estranha e complexa edição do "BBB" da história.
 
Estranha porque existem dois programas em um. Antes e depois de Ana. O tédio das personagens quase amorfas dessa segunda parte é enganoso. Os restos de Ana vivem na dinâmica da psique tortuosa das personagens.
 
Como Ronan, cujo afeto por Ana logo se transformou no egocentrismo que ele chupa do cadáver da amiga. "Serei eu a nova Ana Paula a derrubar meus inimigos?", pergunta o pequeno príncipe maquiavélico que já foi de vilão a mártir a coisa nenhuma. E que agora carrega o legado da adoração de sua rainha; aprovação que não é dele mas que adorna a vaidade iludida do rapaz. O nada que aspira a tudo, por não se saber nada.
 
Ou como Geralda, Matheus e Cacau, que ciscam de lado em lado até descobrir onde a corda é mais forte, sem preocupações de caráter. O nada que aspira ao todo pela busca da amoralidade da falta de escolha - ou da escolha mais conveniente à generosidade que alimenta a vaidade e o ego.
 
Por fim, como Renan, reduzido a quase nada pela eliminação total de todos os seus aliados e amigos. De papel heroico de Sparring da defunta Ana, o rapaz, que já não conseguia articular resposta aos desaforos de sua algoz, agora vive o dilema da falta de resposta existencial pra sua situação. Muitos ex-BBBs se aproveitaram dessa solidão e se sagraram campeões, a despeito de limitações intelectuais ou ocultações morais.
 
Renan seria o único a poder subverter o jogo, voltando atrás no desejo de sua sexualidade retroativa, chamando Munik na chincha, dando um nó na cabeça dos torcedores da falecida Ana Paula, a fantasma dona do jogo. Ou mesmo fazendo algo de heroicamente ensandecido como roubar um beijo de Dona Geralda, superando a insanidade deleitável de Ana Paula. Mas aí também já é pedir demais pra um personagem de nada de um filme existencialista sobre o nada.
 
"Nada" este que revela tudo da condição humana. Joyce escreveu as 24 horas de um personagem medíocre no mais célebre romance do século XX: "Ulisses". O "BBB16" superou Joyce. Revela e desnuda a alma humana através de seis personagens banais em edição histórica.
 
Seis? Ah, sim. Tem Munik. Virtual campeã do jogo. Não fez nada de mais. Dançou bonitinho. É bonitinha. Foi rejeitada. Só escolheu a amizade certa pra ganhar tudo e ser a provável campeã deste "BBB16". O destino. A fatalidade humana. "BBB16": um épico existencialista e profundo sobre o nada que é tudo da condição humana.
 
*Adrilles Jorge é jornalista, escritor e ex-participante do "BBB15"