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Adrilles: Matheus, o Lula da república do "BBB16"

Matheus tem tentado ressuscitar seu casal com Cacau - Reprodução/TV Globo
Matheus tem tentado ressuscitar seu casal com Cacau Imagem: Reprodução/TV Globo

Adrilles Jorge

Colaboração para o UOL

18/03/2016 17h09

Há que ter coragem pra assumir a própria covardia. Não é coisa para fracos escancarar sua fraqueza de caráter a olho nu. Neste momento histórico da nação, Lula, na república, e Matheus, no “BBB”, são o exemplo da virtude torta da coragem de se acovardar. Com caminhos curiosamente parecidos. No fim eu explico direitinho. Por ora, vamos à epopeia da covardia.

Se Lula tomou o lugar de protagonista do governo de Dilma, que se deixou morrer por incompetência de gestão, Matheus tomou o lugar de protagonista do “BBB16” de Ana Paula, que se matou por incompetência de ‘’auto’’ gestão. Ambas, Dilma e Ana Paula, são desgovernadas. Dilma mergulhou no caos de seu desgoverno. Ana Paula se refestelou no sucesso por seu desgoverno carismático que conquistou o público. Dois caminhos trágicos que terminaram de maneira oposta.

Sobrou a Matheus, o Lula do “BBB16”, o espaço de protagonista da política da conversa e da sedução. O rapaz estabeleceu e desfez alianças turvas desde o início. O micareteiro amante da vida e das festas não deixou de lembrar seu passado sofrido de vítima, como o ex-presidente em suas campanhas. Seduziu a mocinha romântica e a vovó ternurinha e fechou o ciclo para angariar a simpatia irresistível do público pelo clichê.

O clichê implodiu. E só não explode porque Matheus foge do paredão como Lula da prisão

Mas quando o clichê é tão óbvio, até a obviedade desconfia de si mesma. Geralda, a vovó, não era tão terna assim e usou reciprocamente o afeto fabricado de Matheus como fábrica de seu jogo escancarado. E Cacau era tão caricaturalmente romântica, que, com seu choro abundante, inundou a paciência do espectador. E a própria paciência romanesca de Cacau, que não conseguiu suportar a interpretação canhestra de Matheus, que, como Lula, não engana mais ninguém em sua sedução histriônica.

O clichê implodiu. E só não explode porque Matheus foge do paredão como Lula da prisão. Lula ministro conseguiu de Dilma seu salvo-conduto de político peralta que quer ressuscitar o clichê mítico em sua volta. Não está dando certo.

Como também não tem dado certo para Matheus. À falta da soberana morta Ana Paula, Matheus atira para todos os lados pra encontrar em alguma musa sua Dilma salvadora. Chegou a brigar com Geralda, na esperança que o público compartilhasse a acusação de traição à senhora. O rapaz foi traído pela volta de Geralda do paredão. E já a cobre novamente de carinhos de netinho afetuoso. Às vezes a traição é tanta que trai até mesmo o traidor.

E, agora, o moçoilo tenta se reaproximar de Cacau, para ressuscitar semicasalzinho, pedindo perdão à mocinha pelo que nunca se arrependeu. Assim como Lula pede perdão pelos desaforos gravados (tá gravado!) à Justiça e ao parlamento, em carta obviamente não escrita por ele.

Já Matheus escreve sem querer a sentença de sua hipocrisia. Alguma hipocrisia, é bom lembrar, nos salva do vício da sinceridade absoluta, desastrosa na boa política das relações humanas.

Já a total hipocrisia, cujo mérito é a coragem de exposição da própria covardia, é a negação total de humanidade, negação esta que anda tão presente na história da política nacional e no “BBB16”.

*Adrilles Jorge é jornalista, escritor e ex-participante do "BBB15"