Ana Clara e Ayrton: quem sai aos seus não degenera
O legado é um dos temas centrais da atual edição do "BBB", ainda que curiosamente seja pouco discutido. Digo isso não apenas pela presença de um pai e uma filha no jogo, mas também pela participação de familiares na vinheta de abertura e também da captura de suas reações em quadro exibido todas as terças.
A temporada corrente faz esforço para mostrar o contexto no qual seus integrantes estão inseridos. Sabemos mais sobre a mãe do Breno do que a respeito do filho, cujos únicos traços de personalidade aparentes são o gosto pela bebida e o fraco por mulher. Também descobrimos que Diegão Avó Jovem, o estrategista horizontal, tem uma fazendinha de minions em casa. E por aí vai.
Quatro participantes em especial fazem questão de mostrar de onde vem. Dois já devidamente eliminados: Nayara com suas intenções de ser o avatar de toda a ancestralidade e Lucas, que pagou a fatura do cartão de crédito da mãe e segurou a barra quando o pai precisou fechar o frigorífico que representava lá no Ceará. Os outros continuam na casa: Viegas se anula no jogo, aparentemente tímido pelo que vão achar dele “na quebrada”, e Kaysar, por todos os motivos que vocês conhecem.
Já Ana Clara não precisa fazer muita força para mostrar os motivos de ser quem é. Está confinada há quase dois meses com o próprio pai no "BBB". E vive a recorrente angústia de não repetir os erros do pai, algo comum a todos os herdeiros de qualquer vacilo. Ao mesmo tempo em que procura se desvencilhar das más decisões de Ayrton, fica ressentida e refratária quando vê o progenitor como alvo de maledicências e injustiças.
A jovem carioca foi naturalmente alçada ao posto de líder do “não-grupo” da casa. Por conta de sua personalidade, ela uniu figuras tão complexas quanto Mahmoud, Gleici, Paula e agora até Breno. Como qualquer capitã de pouca idade, a nau encontra-se por vezes fora do rumo.
Chego a me lembrar de “A Linha da Sombra”, clássico de Joseph Conrad sobre as dores e delícias da transição da mocidade para a vida adulta. Diz a contracapa do livro:
Por força de certos caprichos do destino, um jovem marinheiro que pensava ter abandonado a carreira no mar vê-se de repente nomeado capitão de um navio mercante. Em meio aos ímpetos da juventude, vive a aventura de comandar um navio que aprende a amar e uma tripulação digna de “imorredouro respeito”. Porém, logo precisa enfrentar situações estranhas e até mesmo absurdas, como uma calmaria sem fim, uma doença tropical inexplicável que prostra quase toda a tripulação e outros acontecimentos misteriosos. Seria mesmo alguma influência nefasta do falecido ex-capitão, como o delirante imediato afirma?”
A calmaria sem fim foram as semanas em que ocupou o quarto do líder ao lado do pai. A doença tropical inexplicável é o quarto onde Caruso, Wagner e Viegas dormem. E a influência nefasta do falecido ex-capitão, será o peso herança em vida do equivocado Ayrton, que faz Ana Clara fraquejar em alianças espúrias com Patrícia e Diego?
Eu sei lá. Voltamos a qualquer momento
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