A leveza de “As Cariocas” desmancha no ar
Se o objetivo de "As Cariocas", o novo seriado da Globo, era mostrar Alinne Moraes desfilando sensual, com pouca ou nenhuma roupa, na tela da televisão por 23 minutos, a emissora mandou muito bem. Impossível não se deleitar com o espetáculo exibido.
Mas para isso não era necessário fazer um seriado. Bastava ir ao Google e procurar pelos inúmeros ensaios sensuais da atriz disponíveis em foto e vídeo. "As Cariocas" parece querer mais.
Para começar, o seriado é "inspirado na obra homônima de Sergio Porto". Para quem não sabe, trata-se do gênio por trás de Stanislaw Ponte Preta, criador de Tia Zulmira e Primo Altamirando, do Febeapá (o Festival de Besteiras que Assola o País), das Certinhas do Lalau, entre tantas outras picardias que fizeram a alegria dos seus leitores nas décadas de 50 e 60.
Em "As Cariocas", publicado um ano antes de sua morte, Sergio Porto (1923-1968), deixou o célebre pseudônimo de lado e assinou o livro com o próprio nome. É um projeto mais ambicioso, mas muito bem-humorado, como tudo que escreveu. Nas seis histórias, Porto tenta dar cores ao que o imaginário popular entendia como "a mulher carioca" – sensual, disponível, gaiata, solar.
Daniel Filho comprou os direitos do livro pensando em fazer um filme, mas acabou acertando com a Globo o projeto de um seriado. Encarregou Euclydes Marinho de escrever o roteiro. Como relatou Marcelo Bortoloti na "Folha" no domingo, foi neste momento que os problemas começaram a aparecer.
"Quando reli o livro, tomei um choque. As histórias eram muito banais, quase ingênuas. Na época, todo mundo achava maravilhoso", disse Marinho. Depois de alertar Daniel Filho, ouviu do diretor: "Não liga, a gente adapta. Coloca um pouco de Nelson Rodrigues aí".
Absolva-se, portanto, Sergio Porto de maiores responsabilidades por estas "Cariocas" que a Globo começou a exibir esta semana. Nem as frases engraçadas ditas pelo narrador (o próprio Daniel Filho) são suas – segundo os créditos do programa, seriam de autoria do poeta Geraldo Carneiro.
"Nádia é tão bonita que leva cantada até de porteiro eletrônico", diz o narrador sobre a personagem do primeiro dos dez episódios, "A Noiva do Catete". A personagem, "igual a hipoteca da Caixa Econômica, pensava nas juras e nos juros do amor". E avisa: "Menina que fala com voz de criança em geral costura para fora". Também observa: "Cuidado, quando elas fecham os olhos, raramente pensam em você". E ainda: "Mulher bonita é que nem melancia: o camarada dificilmente desfruta dela sozinha".
São frases soltas, divertidíssimas, que tentam manter o frágil enredo de "A Noiva do Catete" de pé. Como escrevi na primeira linha, Alinne Moraes, em seu primeiro papel na TV depois da paraplégica de "Viver a Vida", dá um show de exuberância.
Descontando a abertura do seriado, de muito mau gosto, ao associar a mulher carioca a modelos numa passarela, o seriado é muito bem realizado e bem acabado. Deleite e entretenimento com padrão Daniel Filho de qualidade – tanta leveza que quase desmancha no ar.
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