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Três sugestões de Muricy Ramalho aos jornalistas esportivos

Mauricio Stycer

06/12/2010 14h17

Os repórteres chamam de "sugestão de pauta" as ideias que apresentam aos seus chefes (apelidados de "pauteiros") para desenvolver reportagens. Muricy Ramalho não é jornalista, mas fez três sugestões de pauta neste domingo, ao final da partida que deu o título do Brasileiro de 2010 ao Fluminense e o consagrou como o grande técnico do país na primeira década do século 21. Ei-las:

1. "Fui técnico quando precisava ser técnico", disse o treinador na entrevista pós-jogo, momentos antes de tomar dois baldes de água de seus jogadores. O que isso significa? Em quais momentos Muricy "foi técnico"? O que ele fez nestes momentos em que foi preciso ser técnico? Quando não é necessário ser técnico?

2. "É claro que ainda é o homem que faz a diferença, que faz a esteira andar, mas a estrutura ajuda e muito", disse Muricy depois do banho gelado que ganhou dos jogadores. Qual é a "estrutura" do Fluminense? O que falta? Por que falta? Qual é a "estrutura" ideal? Quais times brasileiros possuem esta "estrutura"?

3. "Peraí, presidente. Você vai ter duas horas para ficar falando, agora deixa eu falar", disse Muricy, na mesma entrevista, interrompendo o presidente do Fluminense, Roberto Horcades. Como é a relação de Muricy com o presidente? O que Horcades achou deste comentário do técnico? Algum outro técnico no Brasil já mandou o presidente do clube calar a boca no meio de uma entrevista?

Sou fã de Muricy. Além da franqueza e da competência, é um sujeito corajoso e digno. Sua recusa ao convite da CBF para dirigir a seleção brasileira porque não quis romper um contrato de forma unilateral com o Fluminense foi um dos grandes gestos do ano. Nesta sua recente entrevista, o técnico mostrou mais uma qualidade – seria um bom "pauteiro", na redação de qualquer site, jornal ou emissora de televisão.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.