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Trapalhões agora têm “apenas” quatro filmes no Top 10

Mauricio Stycer

09/12/2010 11h20

A chegada de "Tropa de Elite 2" ao cume do Top 10 do cinema brasileiro me chamou tanto a atenção quanto a notícia, ignorada solenemente, da saída de "Cinderelo Trapalhão" da lista. Depois de anos ocupando metade do ranking, Renato Aragão e sua trupe agora têm apenas quatro filmes entre os dez mais do cinema nacional.

Antes do filme de José Padilha, apenas dois outros entraram na lista neste século – "Os Dois Filhos de Francisco", de Breno Silveira, em 2005, e "Se Eu Fosse Você 2", de Daniel Filho, em 2009. Se não estou enganado, desalojaram "Lua de Cristal" e "O Casamento dos Trapalhões".

Até 2005, então, o Top 10 incluía seis filmes dos Trapalhões e um da Xuxa, além de "Dona Flor", de Bruno Barreto, "A Dama do Lotação", de Neville de Almeida, e "Lúcio Flavio", de Hector Babenco. Com exceção deste último, a lista era formada apenas por comédias e Sonia Braga no seu esplendor.

O último filme dos Trapalhões com o quarteto original é de 1990 – "Uma Escola Atrapalhada". Sem Zacarias, morto naquele ano, depois sem Mussum, que faleceu em 1994, e, por fim, rompido com Dedé Santana, Renato Aragão fez uma série de filmes, mas nenhum alcançou o Top 20 do cinema brasileiro.

A popularidade do cinema brasileiro sempre esteve atrelada à televisão e ao humor. Qualquer leitura que se faça do Top 10 vai dar de cara com esta constatação. O filme de Babenco foi, por anos, uma exceção a esta regra.

"Carandiru", do cineasta argentino, aliás, é a outra produção desta década (de 2004) que conseguiu um lugar entre as 20 maiores bilheterias do cinema brasileiro. Neste Top 20, dez dos filmes são estrelados pelos Trapalhões.

Do ponto de vista do gênero, o único filme no Top 10 que permite alguma comparação com "Tropa de Elite 2" é o "Lúcio Flavio", de Babenco. Produção de 1977, conta a história do famoso criminoso e expõe o chamado Esquadrão da Morte, personificado pelo policial Mariel Mariscot.

Não deixa de ser irônico que Babenco tenha sido acusado de romantizar os criminosos no filme – uma opção exatamente inversa à de José Padilha, que se consagrou justamente por sugerir que seus policiais super-heróis são a salvação do Brasil.

Em tempo: Mais informações sobre o recorde batido por "Tropa de Elite 2" podem ser lidas aqui. O Top 10 atualizado pode ser visto aqui.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.