Regina Casé vende otimismo em programa de auditório da “Era Lula”
Mauricio Stycer
03/01/2011 10h31
Várias destas iniciativas foram marcadas por um tom missionário, incômodo, bem como por uma felicidade ingênua que não encontrava guarida na realidade do país. Com "Esquenta!", seu mais novo programa, a ser apresentado aos domingos entre janeiro e março deste ano, Regina parece ter encontrado o tom certo no momento exato.
Não à toa, Lula foi a grande atração do programa de estreia, numa entrevista descontraída que ele não teve a oportunidade de dar à Globo nos seus oito anos de governo. "Assista nós na televisão", convocou o ex-presidente, bem ao seu estilo, dirigindo-se ao público. Em outro momento, Lula convidou Zeca Pagodinho a tomar uma cerveja e pediu ao sambista que cantasse um de seus maiores sucessos, aquele que diz: "Deixa a vida me levar, vida leva eu…"
Foi o único momento, aliás, em que o programa deixou o colorido auditório onde a apresentadora reinou por uma hora, cercada de amigos e músicos do primeiro time do samba, incluindo Monarco, Gilberto Gil, Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz.
Regina Casé citou duas referências – nítidas, por sinal – para o "Esquenta!": o "tropicalista" Chacrinha (1917-1988) e o carioquíssimo Jorge Perlingeiro. Pouco conhecido em São Paulo, este último é apresentador do programa "Samba de Primeira", dono do bordão "só se for agora" e filho de Aerton Perligueiro (1921-1992), "host" da versão carioca do "Almoço com as Estralas", na TV Tupi.
"Esquenta!" está escalado para substituir, durante o verão, o humorístico "Os Caras de Pau". A certa altura da estreia, Leandro Hassum e Marcius Melhem, protagonistas do programa, apareceram no auditório para fazer piada com a ideia de que Regina Casé estaria roubando o horário deles.
Obviamente que, se a Globo tiver planos de fixar "Esquenta!" futuramente em sua grade, não será no lugar dos "Caras de Pau". O formato do programa de auditório indica que a competição, se houver, será com Luciano Huck ou Faustão.
Regina levou ao programa de estreia um pedreiro que trabalha numa obra em frente ao seu prédio, um idoso que vende polvilho na praia e um outro senhor que carrega malas simplesmente para partilhar com o público do sorriso, da simpatia e do otimismo dos três.
O roteirista Hermano Vianna, o diretor Estevão Ciavatta e o diretor de núcleo Guel Arraes, além de Regina, é claro, parecem acreditar que é possível fazer televisão popular longe do assistencialismo do "Caldeirão do Huck" e do tom popularesco do "Domingão do Faustão". O momento, de fato, é propício.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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