Robert Capa: perto da guerra, longe dos fatos
Mauricio Stycer
04/01/2011 11h25
Um dos mais famosos fotógrafos de guerra da história, Robert Capa (1913-1954) é também autor do lema que orienta estes profissionais tão corajosos quanto ligeiramente doidos: "Se suas fotos ainda não estão boas o suficiente é porque você ainda não está perto o suficiente".
Capa cobriu de perto, o mais perto possível, cinco guerras. Tornou-se famoso graças ao trabalho que realizou na primeira, a Guerra Civil Espanhola, em 1936, virou uma lenda com as fotos que fez na Segunda Guerra Mundial, entre 1942 e 1945, e perdeu a vida ao pisar numa mina, em 1954, acompanhando o Exército francês na Indochina.
Como escreveu Peter Mass, em reportagem publicada esta semana na "New Yorker" sobre a derrubada da estátua de Saddam Hussein pelo Exército americano logo depois da invasão do Iraque, em 2003, às vezes, estar muito perto, como ensinou Capa, não ajuda. Em certas situações, diz, "quanto mais longe você está, melhor você pode ver".
A recomendação vale para "Ligeiramente Fora de Foco". O biógrafo de Capa, Richard Whelan, alerta na introdução que o livro foi escrito em 1946 e pensado para servir de base ao roteiro de um filme sobre as aventuras do fotógrafo. A primeira edição trazia a seguinte advertência: "Todas as pessoas e eventos neste livro são casuais e têm alguma coisa a ver com a verdade".
Capa colore o seu trabalho de correspondente de guerra com tintas hollywoodianas. Ele está sempre se divertindo, bebendo e rindo enquanto a guerra avança e suas fotos ganham as primeiras páginas de jornais e revistas. Nada é difícil e o sofrimento a sua volta não o comove. Ele parece sempre mais preocupado em conseguir bebidas e vencer os colegas no pôquer do que com a guerra propriamente.
Sobre as fotos, igualmente famosas, do desembarque na Normandia, no Dia D, ele faz uma observação de passagem sobre o fato de os negativos terem sido danificados no processo de revelação. O titulo do livro faz menção à "informação" que a revista "Life" incluiu ao pé das fotos, dizendo que Capa teria tremido no momento de disparar a sua câmera (um exemplo desta série ilustra este texto, no alto).
A edição da CosacNaify compensa o leitor com a publicação de quase uma centena das fotos de Capa realizadas durante a Segunda Guerra. São impressionantes, de fato, e mostram por que o fotógrafo é, merecidamente, uma lenda.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.