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Século 21 vai oferecer coisa melhor em matéria de jornalismo

Mauricio Stycer

03/02/2011 10h38

Não sou usuário de iPad ou de qualquer outro tablet (ainda?), mas passei a tarde de quarta-feira brincando com um na redação do UOL. Queria ler o primeiro jornal criado exclusivamente para esta nova ferramenta, o "The Daily".

O que mais impressiona é o tamanho do projeto, os recursos investidos, o número de profissionais envolvidos e o tamanho da ambição: apresentar o jornal do século 21. No texto que escrevi para o UOL Tecnologia, falo da minha decepção.

Como disse o amigo e especialista em mídias digitais Felipe Mendonça, depois de ler o texto, parece um "USA Today" em bits, ou seja, um meio de comunicação visualmente atraente, com muitos artifícios para prender a atenção do leitor, mas tão superficial e ligeiro quanto um programa de televisão.

Mas há que se dar um desconto. É um número de estreia. E outros grupos de comunicação estão desenvolvendo os seus próprios jornais e revistas para tablets, como pode-se ler nesta ampla reportagem sobre o lançamento do "The Daily".

Certamente o século 21 vai oferecer coisa melhor em matéria de jornalismo. Mas é um início. Abaixo o texto que escrevi ontem:

Agradável de ler, mas com cara de revista, 'The Daily' promete ser 'o jornal do século 21'

"Bem-vindo ao jornal do século 21", diz o editorial do "The Daily", primeiro jornal diário criado especialmente para iPad, o tablet da Apple. "Novos tempos pedem novo jornalismo", prossegue a carta de intenções, que promete cobertura sem viés partidário, defesa do liberalismo e, mais importante, um show de recursos de interação.

Com investimento declarado de US$ 30 milhões e a participação de 100 profissionais, "The Daily" é uma aposta de Rupert Murdoch, um dos maiores empresários de mídia do mundo.

Não dá para navegar pelo "The Daily" sem lembrar que Murdoch é dono de um conglomerado de mídia que inclui jornais sérios ("The Times" e "The Wall Street Journal"), tablóides sensacionalistas ("The Sun") e a rede de TV Fox News, uma das vozes de oposição ao governo do presidente  norte-americano Barack Obama.

A primeira impressão que a edição de estreia do "The Daily" provoca é de encantamento. Vídeos, fotos, áudio, gráficos interativos, tudo embalando textos sobre a crise no Egito, a gravidez de Natalie Portman, o próximo Superbowl, transformam a leitura em algo extremamente divertido e prazeroso.

Há um menu em forma de carrossel, que oferece a alegria de ver as páginas girarem pela tela. Há um recurso que direciona o leitor para as páginas que ele ainda não leu. Há fotos com impressionantes efeitos de zoom em 360º da praça Tahrir, no Cairo. Até as publicidades são incríveis.

Não há nenhuma grande notícia exclusiva na edição de estreia. As abordagens das principais reportagens lembram muito mais revistas semanais ou mensais do que um jornal diário. Há poucos textos de opinião ou análise. Em resumo, "The Daily" é tão leve quanto bonito. Jornalismo do século 21? Será que é isso?

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.