Topo

Livro mostra repetições, fracassos e polêmicas dos reality shows

Mauricio Stycer

18/02/2011 09h36

A televisão aberta no Brasil abraçou com gosto os reality shows. Desde a exibição no país da primeira edição de "No Limite", em 2000, já foram produzidos 48 programas (ou quadros) diferentes com características deste gênero no país.

É uma febre, como se sabe, mundial. O "Big Brother", por exemplo, já mereceu adaptações em 54 países. Em sua imensa maioria, os programas exibidos aqui são reproduções de formatos estrangeiros – adaptações legais ou cópias piratas, como foi "Casa dos Artistas".

Há muito o que discutir sobre o encanto provocado por estes programas. "Almanaque dos Reality Shows no Brasil" (Panda Books, 168 págs., R$ 27,90) não se propõe a isto. Mas o trabalho da jornalista Karina Trevizan, com a sua profusão de dados e curiosidades, pode ajudar a quem se interessa em entender melhor este gênero.

O livro estabelece seis subgêneros de reality show – e os batiza como jogos de sobrevivência (caso de "Hipertensão"), concursos de talentos ("Ídolos", "Fama"), disputas ("O Aprendiz"), confinamento ("A Fazenda", BBB), ajuda de profissional ("Supernanny") e "a vida como ela é" ("Troca de Família", "Dr. Hollywood").

Karina resgata informações que mostram como os programas se repetem, apesar das fórmulas estarem sempre sofrendo atualizações. No "Casa dos Artistas 4", exibido pelo SBT em 2004, havia um travesti entre os participantes sem que os demais soubessem. O segredo só foi revelado depois da eliminação de Bianca Soares (esq.), na segunda semana do reality. A situação lembra muito a participação da transexual Ariadna (dir.) no BBB11, este ano.

Talvez o caso mais engraçado seja do reality "Apartamento de Modelos". No esforço de entrar na onda, a RedeTV confinou oito modelos num mesmo espaço por 30 dias, em 2002. Com pouca verba, porém, registrou o cotidiano delas apenas com uma câmera, operada pelo cinegrafista, que também era roteirista e diretor do programa. Apresentado por Nelson Rubens, conta Karina, "Apartamento de Modelos" entrou para a história como o reality show de uma câmera só.

A peça de resistência do livro é o BBB, o mais bem-sucedido e longevo reality show da tevê brasileira. A autora descreve cada uma das dez primeiras edições em detalhes, lembrando histórias, polêmicas e besteiras ocorridas nos programas.

Uma das listas mais curiosas levantadas por Karina é a dos participantes que posaram nus depois de saírem da casa. Entre mulheres e homens, são 42 – uma confirmação de que não é necessário conquistar o prêmio principal para assegurar o passaporte da fama.

Aliás, outro levantamento do livro diz respeito ao destino dos vencedores do BBB. A metade deles não conseguiu conservar o dinheiro ganho e se perdeu em negócios mal feitos.

Por fim, "Almanaque dos Reality Shows no Brasil" certamente vai causar polêmica por afirmar que Daniel Filho (dir.) é "desafeto" de Boninho (esq.), o diretor do BBB. O livro atribui ao primeiro uma frase muito repetida ("O Boni fez muita coisa boa, mas também fez o Boninho"), que ele nunca confirmou ter dito.

Em entrevista à revista "Trip", em março de 2010, Daniel Filho disse: "O Boninho nunca foi meu desafeto. Eu me considero um irmão do Boni, o pai dele. Então a última pessoa que eu poderia xingar é o Boninho. E o Boni já é tão severo com o Boninho que eu não preciso dizer nada! Várias vezes eu falei pro Boni: não fala assim com o menino [risos]. Juro, pode publicar aí."

Em tempo: em dezembro de 2010 publiquei aqui no blog um texto sobre o assunto, intitulado A década em que viramos voyeurs e juízes da vida alheia.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.