Tipos de leitor: o Professor Pasquale
Todo mundo conhece bem este tipo, presente em qualquer blog e no Twitter. Não importa o assunto. O importante é a discussão estar quente. É quando ele aparece para, com alguma superioridade, observar: "Como é que vocês querem discutir política se não sabem escrever português corretamente?" Ou: "Aprendam primeiro a escrever EXCEÇÃO antes de opinar". Ou ainda: "Não é DESCORDAR e sim DISCORDAR. Maldita inclusão digital!"
De fato, a caixa de comentários dos blogs é um terreno fértil para identificar problemas recorrentes no uso da língua portuguesa. O que me incomoda no Professor Pasquale não é esta sua preocupação com a gramática e a ortografia, legítima, por sinal, mas o tom de superioridade e arrogância que muitas vezes adota.
Há maneiras e maneiras de corrigir publicamente os erros alheios. Já escrevi uma vez sobre este episódio, mas não custa repetir. É um belo exemplo, na minha opinião, sobre como agir com cordialidade em casos de erros de português em espaços públicos. Deu-se no final de 2007, se não me engano.
A ESPN Brasil exibia o "Bate-bola – segunda edição". O apresentador João Carlos Albuquerque informou que Kaká havia acabado de ser premiado com a Bola de Ouro, o tradicional prêmio concedido pela revista "France Football" ao melhor jogador do ano. O programa então mostrou uma entrevista gravada com o jogador, ao longo da qual Kaká falou da alegria de ter sido escolhido e informou: "Esse prêmio vai para a minha sala de TROFÉIS".
A entrevista prosseguiu por mais alguns instantes até que a transmissão voltou para o estúdio. Albuquerque tomou a palavra e falou (cito de cabeça): "Esse é um programa assistido por muitos jovens. Então, temos também uma função educativa. O plural de palavras terminadas em 'éu' é sempre 'éus'. Chapéus, troféus, réus e assim por diante".
Sem citar Kaká e o seu atentado gramatical, Albuquerque deu uma grande lição, ao vivo – mostrando que um bom jornalista precisa ter cultura e jogo de cintura, além de consciência sobre o seu papel num país com tantas deficiências quanto o Brasil.
Cheguei a cogitar, quando comecei a escrever em blog, corrigir erros crassos de leitores sem avisar. Mais do que o tempo que isso me custaria, desisti da ideia por achar que seria uma interferência indevida na comunicação.
É um tema complexo e delicado. No Twitter, cheguei a fazer algumas observações públicas sobre erros cometidos por pessoas famosas. Não faço mais. Percebi que muita gente se sentia ofendida pela correção de mancadas alheias.
Em tempo: Sou amigo do professor Pasquale Cipro Neto, que conheci na redação da "Folha" na década de 90 e reencontrei inúmeras vezes, a última na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul. Acho o seu trabalho exemplar. Ao batizar um "tipo de leitor" com o seu nome quis prestar uma homenagem a ele.
PS. Quem quiser ler os outros textos da série Tipos de Leitor basta clicar aqui ou, na lateral direita do blog, em Categorias, no último item incluído.
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