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Quando a bagunça vira rotina em Congonhas

Mauricio Stycer

30/04/2011 14h51

Cheguei ao aeroporto de Congonhas às 9h deste sábado. Meu vôo para o Rio era às 10h. Havia feito o check-in em casa, na noite anterior, mas não consegui imprimir o cartão de embarque. Dirigi-me, então, a uma máquina de auto-atendimento. Das cinco em frente ao balcão da TAM, apenas duas funcionavam. Ao digitar meu código de reserva no equipamento, descobri que minha viagem havia sido alterada para as 10h30 e o assento que escolhi fora modificado.

Também não consigo imprimir o cartão de embarque na máquina. Uma mensagem diz que houve algum problema de segurança. Vou para o balcão de check-in. Como se fosse a coisa mais natural do mundo, a funcionária confirma que meu vôo original, o das 10h, foi cancelado. Mas descubro que há um vôo às 9h30 e consigo alterar minha passagem.

" Você conhece o aeroporto?", pergunta a funcionária. "Já está embarcando", ela me avisa. "No portão 1". São 9h10 e saio correndo. Praticamente atropelo uma funcionária na escada rolante, passo pelo raio x e chego com a língua de fora no portão 1. O aviso luminoso informa que o próximo vôo é para Uberlândia. Uberlândia??? Perdi o vôo, penso. "Não. O vôo para o Rio mudou para o portão 3".

Caminho até o novo portão. São 9h20. Uma longa fila se forma diante da entrada. O painel luminoso informa que o vôo agora tem saída prevista para as 9h44. Às 9h30, o serviço de som do aeroporto informa: Devido a "problemas de manutenção", o vôo agora partirá do portão 5.

Romaria por Congonhas. A fila inteira se move. Senhores e senhoras, pais com filhos, o público que viaja nos finais de semana. Às 9h35 começa o embarque. Quinze minutos depois, o avião fecha as portas. Lentamente, o Airbus começa a andar e logo para na pista. Há uma fila de aviões à frente. Mais uma espera. Por volta das 10h, finalmente, o piloto informa que está autorizado a partir. Por volta das 10h50 desembarco no Rio.

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O leitor certamente já viveu experiência parecida a esta em Congonhas ou já leu reclamações semelhantes em jornais, sites e redes sociais. Não há, de fato, nenhuma novidade neste relato da minha viagem para o Rio.

O que me parece nova é a sensação de que este tipo de transtorno já é encarado como rotineiro pelos passageiros. Ninguém reclama mais. É como se fizesse parte do pacote da viagem os vôos serem cancelados, os embarques mudarem de lugar a cada cinco minutos e os aviões partirem com atraso. O caos virou rotina e foi incorporado à ideia de viajar. É estranho.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.