Beijo gay é ousadia importante numa novela com problemas
Quem assistiu "Amor e Revolução" nos últimos dois dias, na expectativa de testemunhar um momento histórico – o primeiro beijo gay numa telenovela brasileira –, deve ter se perguntado: como uma ousadia destas ocorreu numa novela tão convencional, didática e previsível?
Tiago Santiago merece crédito tanto por uma coisa quanto por outra. Teve a coragem e o senso de oportunidade de afrontar um tema delicado, transformado oficialmente em tabu pela Globo, e logo de uma forma radical: um beijaço, intenso e longo, entre as personagens Marcela (Luciana Vendramini) e Mariana (Gisele Tigre).
Dou um desconto à presepada feita pelo SBT, que prometeu exibir a cena no capítulo de quarta-feira – fato anunciado, inclusive, pelo telejornal da casa –, mas só a mostrou no dia seguinte. A expectativa criada pelo beijo foi vista pela direção da emissora como uma oportunidade para alavancar a audiência da novela, que ainda não decolou, depois de um mês no ar.
Mas não dá para ser condescendente com alguns problemas, mais do que visíveis, de "Amor e Revolução". A novela exige paciência do espectador. Tiago Santiago explicou, em entrevista a este blogueiro, que o excesso de didatismo se justifica pelo desconhecimento de grande parte do público sobre os acontecimentos da década de 60 no Brasil.
Na sua visão, o didatismo incomoda a classe AB, mas não às demais. Tenho a impressão que ele está enganado. O tom de livro de história para crianças prejudica o ritmo da trama e constrange os atores, obrigados a reproduzir falas bobas e a fazer verdadeiros discursos em cena. Ninguém gosta de assistir telecurso às 22hs.
O tema da novela é ótimo e oportuno, mas isso não basta para transformar "Amor e Revolução" numa experiência agradável. No mesmo capítulo do beijo gay, por exemplo, um médico aplicou uma injeção com "soro da verdade" num paciente, segurando a seringa com uma mão e o revólver com a outra. Em outra cena, um militante de esquerda reclamava por trocar sozinho o pneu do carro, enquanto um padre recitava trechos da Bíblia e duas mulheres conversavam sobre o amor.
O público rejeitou as cenas de tortura, contou Santiago. Silvio Santos brincou a respeito, dizendo que a novela deveria ter mais amor e menos revolução. Por coincidência, na quarta-feira, dia do beijo gay que não ocorreu, "Amor e Revolução" mostrou uma cena de amor entre os dois protagonistas, José (Claudio Lins) e Maria (Graziella Schmitt), com direito a close nos seios da moça, dentro de uma igreja.
Santiago promete desenvolver a trama romântica entre as duas mulheres de acordo com o interesse e a resposta do público. Ele tem um longo caminho pela frente, antes disso. Precisa, primeiro, tornar a sua novela mais ágil e surpreendente.
Normas para comentários: Os comentários no blog são moderados previamente. Pode criticar a vontade, inclusive o blogueiro. Veto textos com acusações sem provas e ofensas, seja a pessoas citadas ou a outros comentaristas. Também não aceito textos escritos em maiúsculas (caixa alta) ou com links. Palavrões pesados e grosserias serão vetados.
Sobre o autor
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.