Em defesa do humor sem limites
Mauricio Stycer
17/05/2011 07h01
Por discordar do tom desta nota da emissora, escrevi no blog: "Isso significa que autistas não podem ser alvos do humor? Não creio. Do ponto de vista do público, existem basicamente dois tipos de piada, a boa e a ruim. Tanto uma quanto a outra podem provocar incômodo."
Muitos pais de crianças autistas comentaram este post. Sentiram-se ofendidos tanto pelo quadro da MTV como pela minha observação. Depois disso, houve outros dois casos rumorosos de piadas consideradas ofensivas.
Sigo defendendo a ideia de que não deve haver limites para o humor. Isso não significa ouvir barbaridades sem protestar. Sugiro abaixo um decálogo a respeito:
Como reagir a uma piada incômoda, de mau gosto, ofensiva?
1. Tapar os ouvidos.
2. Se a piada tiver sido dita no rádio ou na TV: mudar de estação ou desligar o aparelho.
3. Dita no palco de um teatro: levantar da poltrona, sair e pedir o dinheiro do ingresso de volta.
4. Lida num jornal, revista ou site: mudar de página.
5. Escrita num livro: não compre. Se já tiver comprado, devolva o livro.
6. Mandar uma carta ao veículo de comunicação que abrigou a piada ofensiva, expondo os motivos do seu descontentamento e, se for o caso, ameaçar nunca mais ouvir, ver ou ler quem abrigar piadas deste tipo.
7. Organizar um abaixo-assinado, de maneira a aferir quantas pessoas, como você, se sentiram ofendidas pela piada ruim, e enviar ao veículo de comunicação que deu abrigo a ela.
8. Repetir o procedimento dos pontos 6 e 7, mas dirigir suas reclamações às empresas que patrocinam o humorista que te ofendeu e/ou o veículo de comunicação que abriga as suas piadas.
9. Procurar um advogado ou o Ministério Público para avaliar se a piada ruim constitui crime de algum tipo e, se for o caso, ingressar com uma ação contra o autor da ofensa.
10. Batalhar junto aos seus representantes no Congresso para que eles lutem para tipificar como crime o tipo de humor que te ofende. Se a sua reclamação for socialmente majoritária, você tem chance de vê-la virar lei.
Numa sociedade democrática, creio, essas são as opções que temos diante do que nos ofende, inclusive piadas. Querer estabelecer o que pode ou não ser dito, quais temas podem ou não ser objeto de piadas, me parece antidemocrático.
Posso imaginar a dor de um pai autista, de uma vítima de estupro ou de um sobrevivente do Holocausto, mas querer calar a boca de quem faz piadas sobre estes assuntos não vai resolver os seus problemas. Também posso imaginar o incômodo que todos os tipos de minoria sentem ao ouvir piadas a seu respeito, mas o combate ao preconceito não se dá pela repressão, mas pela educação.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.