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Pedalar em Berlim não é o paraíso, mas é mais que um sonho

Mauricio Stycer

20/06/2011 10h06

É impossível não se surpreender – e não se encantar – com a presença de bicicletas no cotidiano de inúmeras cidades europeias. Na Holanda, 27% dos habitantes têm bicicleta. A média da Europa chega a 9,5%. Na Alemanha, há 35 mil quilômetros de ciclovias. Em Paris, há 20 mil bicicletas disponíveis nas ruas para aluguel.

A prefeitura de Londres está investindo cerca de R$ 200 milhões na construção de 10 ciclovias em estradas até 2012, quando a cidade recebe os Jogos Olímpicos. Na Alemanha, começa a sair do papel o projeto da primeira ciclovia entre duas cidades, Dussedorf e Duisburgo, 60 quilômetros de asfalto exclusivos para veículos de duas rodas sem motor.

Dei minhas pedaladas semana passada pelas ruas de Berlim. A cidade conta cerca de 500 mil ciclistas, que são responsáveis por 13% do tráfego urbano. São quase 700 quilômetros de ciclovias ou variações, como pistas conjuntas para bicicletas e ônibus ou bicicletas e pedestres.

Há um site especializado em dar indicações de rotas para ciclistas. O metrô dispõe de vagões especiais para bicicletas. Como outras cidades planas, é muito fácil, e pouco cansativo, pedalar por Berlim.

O ciclismo como meio de transporte aumenta a sensação de liberdade. Integradas à paisagem, as bicicletas sugerem a possibilidade de uma vida mais saudável e menos neurótica.

Nem tudo são flores, é claro. Diariamente, há muitos acidentes, alguns graves, com ciclistas em Berlim. Ninguém, com exceção das crianças, usa capacetes. Os ônibus, de fato, respeitam as bicicletas, mas o mesmo não se pode dizer de vans e carros que, constatei, com frequência se irritam com os ciclistas.

A foto que ilustra este texto foi tirada por mim num cruzamento em Kreuzberg, um dos bairros mais bacanas de Berlim. A mãe carrega seu filho na garupa. De capacete, ele bebe tranquilamente a mamadeira, enquanto ela pedala. Parece o paraíso. Ainda não é. Mas é mais que um sonho.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.