Topo

“João Sorrisão” é capaz de acertar a cabeça da própria Globo

Mauricio Stycer

27/06/2011 12h19

Estava de férias quando o "Esporte Espetacular", programa semanal da Rede Globo, lançou a promoção do "João Sorrisão", prometendo entregar um exemplar do boneco de plástico a cada jogador que comemorasse um gol imitando o seu jeito de balançar – para os lados, para frente e para trás.

Retornei ao Brasil há uma semana e desde então li algumas menções a "João Sorrisão" no Twitter sem entender direito. Até que, neste domingo, vi o vascaíno Felipe comemorar, em conjunto com os companheiros de time, o gol que marcou contra o Atlético-GO.

Lendo várias opiniões a respeito, encontrei a defesa que o editor-chefe do programa, Sidney Garambone, fez do "João Sorrisão" e aprendi que a iniciativa foi muito elogiada por marqueteiros. E é justamente disso que se trata.

Um dos indicadores de sucesso do jornalismo esportivo popular, desde a década de 30 do século passado, é a sua capacidade de inventar modas e fazer vingar as suas iniciativas.

No passado, "Jornal dos Sports" e "Gazeta Esportiva" foram mestres na criação de promoções, apelidos para jogadores, bordões para times e slogans para os confrontos entre equipes. Radialistas criativos seguiram a trilha, inventando bordões e nomes de guerra para os protagonistas do espetáculo. O "Lance!" vem tentando fazer o mesmo, assim como inúmeros jornais populares hoje no mercado.

O "Esporte Espetacular" está, portanto, no direito de fazer a promoção que quiser, por mais idiota que seja. O fato de tantos jogadores se submeterem a ela é que assusta.

A ação do "Esporte Espetacular" expôs mais uma vez o poder de fogo da Globo, dona dos direitos de transmissão do Brasileiro. A emissora dá uma visibilidade que nenhum concorrente é capaz de oferecer. Em três semanas, dezenas de jogadores comemoraram seus gols imitando o "João Sorrisão".

Fora o sucesso de marketing, não vejo nenhuma qualidade nesta promoção. Aliás, creio que este sucesso é capaz de produzir um efeito bumerangue, ou de "bate e volta", como o próprio boneco, e acabar acertando a cabeça da emissora.

Afinal, já proibidos de tirar a camisa e de correr para fora do campo na hora da maior alegria, só falta agora todos os jogadores comemorarem o gol de uma mesma maneira. Seria um desastre para quem transmite o campeonato.

Em tempo: Um dos maiores goleadores da história do futebol brasileiro, o genial Dadá Maravilha, lamentou em seu Twitter que os jogadores estejam sendo tão pouco criativos na hora de festejar o gol. Assim que a promoção começou, o blog UOL Esporte Vê TV também deu o seu pitaco no assunto. Você pode ler aqui.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.