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Quanto vale a comemoração de um gol?

Mauricio Stycer

18/07/2011 11h51

Lamento muito, mas não me espanto nem um pouco com a notícia de que jogadores do Palmeiras foram orientados  a comemorar gols fingindo que dirigem carros. Trata-se de uma ação de marketing orientada, tudo indica, pelo principal patrocinador do time, uma montadora de automóveis, a Fiat.

Não é o primeiro caso do tipo, e nada indica que será o último. Ainda na década de 90, Ronaldo comemorou gols levantando o dedo indicador da mão direita, querendo dizer que era o número um, mesmo slogan da cervejaria que o patrocinava, a Brahma.

Mais recentemente, jogadores de inúmeros times começaram a comemorar gols imitando um João Bobo, atendendo o apelo de um programa de esportes na televisão, o "Esporte Espetacular", que criou uma promoção e batizou o boneco como João Sorrisão.

A transformação do futebol em negócio bilionário, um processo iniciado há mais de 25 anos, é irreversível – e pode ser positiva para o esporte. Não adianta chorar pela época do "futebol romântico", em que jogadores assinavam contratos em branco, jogavam contundidos e tinham amor pelos clubes.

A questão é estabelecer limites. Transformar a comemoração de um gol em peça de marketing, em mercadoria, me parece claramente um avanço de sinal. O problema é que os clubes precisariam ter saúde financeira para não se tornarem reféns de seus apoiadores e patrocinadores. O que está longe de ser o caso hoje no Brasil.

Em tempo: Merece registro o comentário de Casagrande, na Globo, depois da eliminação do Brasil na Copa América:  "Senti uma autoconfiança, uma soberba nos movimentos dos jogadores. Nós jogamos futebol. Marketing, aparecer, fazer pose pra aparecer no telão ou pra fazer propaganda é outra história". Como mostra o episódio "João Sorrisão", a Globo também tem sua parcela de responsabilidade nisso.

Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.