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Gays em novelas, no noticiário e o marketing da responsabilidade social

Mauricio Stycer

19/07/2011 12h13

Três notícias sobre o mesmo assunto estão no noticiário nesta terça-feira:

No UOL, Aguinaldo Silva, autor da próxima novela das 9 na Globo, "Fina Estampa", diz: "E agora eu decidi que beijo gay só na minha casa. Na novela, não. Não é questão (da emissora) deixar ou não. Eu acho que as pessoas não aceitam. Fiz uma enquete e 75% das pessoas disseram não querer ver beijo gay na televisão. Então acho que esse assunto deve ficar em banho-maria por uns 25 anos".

Na "Folha", a coluna Outro Canal informa que Gilberto Braga e Ricardo Linhares, autores da atual novela das 9, "Insensato Coração", foram orientados pelo diretor-geral de entretenimento da emissora, Manoel Martins, a esfriarem a trama que envolve os personagens homossexuais Eduardo (Rodrigo Andrade) e Hugo (Marcos Damigo). "Além do corte das cenas, os autores foram instruídos a não carregarem bandeira política, a pararem de fazer apologia pela criação de uma lei que puna a homofobia", diz a nota.

No "Bom Dia Brasil", noticiário matinal da Rede Globo, a primeira notícia do dia, depois da leitura da "escalada", foi lida por Renato Machado: "O Brasil é o país com maior número de crimes contra gays no mundo. São 200 mortes todo ano."

Tanto Aguinaldo Silva quanto a direção da Globo argumentam que existe rejeição do público a cenas com homossexuais em novelas. Dentro da lógica comercial que rege o mercado de televisão no Brasil, não faz sentido, de fato, oferecer ao público algo que o ofenda. Mas se a emissora tivesse, realmente, preocupação com "responsabilidade social", como apregoa em campanhas de marketing, tenho a impressão que saberia agir de forma diferente neste caso.

As novelas da Globo já deram "lições" (algumas chatíssimas, inclusive) sobre  doação de órgãos,riscos do consumo de drogas, combate ao preconceito racial, defesa dos direitos dos idosos, entre tantas outras "causas" a respeito das quais a emissora julgou necessário adotar um papel "educativo". O combate à homofobia, pelo visto, ainda é uma fronteira a ser superada internamente, na Globo.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.