Livro de assessor de Roberto Marinho traz elogios, mas poucas novidades
Mauricio Stycer
30/08/2011 07h10
Há, porém, um quarto nome nesta história, nem sempre mencionado, o do americano Joe Wallach, um nova-iorquino nascido em 1923, cuja participação nestes anos iniciais da emissora carioca é considerada tão importante quanto a dos dois executivos brasileiros.
Nunca se conheceu em detalhes o papel de Wallach na Globo, nem mesmo quando ele prestou depoimento numa CPI do Congresso brasileiro, em 1966, instalada com o objetivo de averiguar a atuação do grupo de mídia americano Time-Life na empresa comandada por Marinho (na foto à esq., os dois, no Natal de 1978).
Entre 1962 e 1970, o grupo estrangeiro investiu cerca de US$ 6 milhões na Globo. Com formação na área de contabilidade e administração, Wallach chegou ao Rio em agosto de 1965, enviado para cuidar dos interesses do sócio de Marinho. Cinco anos depois, com a saída da Time-Life do negócio, naturalizou-se brasileiro e permaneceu na emissora, como "superintendente executivo", até 1980.
Além dos elogios ao "grande líder" Roberto Marinho, que se repetem a cada página, há poucas novidades e informações relevantes que já não fossem conhecidas por quem se interessa pela história da televisão no Brasil.
Para quem aprecia o gênero, duas outras biografias tratam deste período inicial da Rede Globo com riqueza muito maior de detalhes. "Roberto Marinho", de Pedro Bial, lançado em 2005, traz a versão oficial da história. E "O Campeão de Audiência", de Walter Clark e Gabriel Priolli, publicado em 1991, apresenta o olhar do principal executivo do grupo, 14 anos depois de ter sido demitido.
A demissão de Walter Clark (esq.), então um dos executivos mais bem pagos no Brasil, com salário de US$ 1 milhão ao ano, merece um exame mais detalhado de Wallach. O americano observa, de passagem, que Roberto Marinho sentia ciúmes de Clark, mas atribui a decisão de afastá-lo ao seu "alcoolismo".
Na sua autobiografia, Clark conta que foi Wallach quem o encontrou, por telefone, em um hotel em Nova York, em maio de 1977, e lhe deu a noticia da demissão. Em seu livro, o americano é categórico: "Da minha parte, jamais disse uma palavra". Segundo ele, foi Clark quem telefonou "bêbado" e disse: "Joe, sei que ele (Roberto Marinho) vai me mandar embora. Se você não conseguir uma indenização decente para mim, vou te matar".
Dos quatro personagens-chave ligados ao nascimento da Globo, só falta a biografia de Boni (na foto com Wallach, em Angra dos Reis, em 1980). É um livro aguardado há muito tempo, sobre o qual volta e meia se diz que ele estaria escrevendo. Espero, se vier, que traga mais novidades e menos elogios.
Mais informações: "Meu Capítulo na TV Globo", de Joe Wallach (Topbooks, 232 págs., R$ 49). "Roberto Marinho", de Pedro Bial (Jorge Zahar, 400 págs, R$ 59). "O Campeão de Audiência", de Walter Clark com Gabriel Priolli (Editora Best-Seller, 422 págs., esgotado, mas facilmente encontrado em sebos)
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
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