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Exagero de Regina Duarte é uma "baliza" para os demais atores de “O Astro”

Mauricio Stycer

14/09/2011 10h29

Por conta de seus exageros, a interpretação de Regina Duarte em "O Astro" tem sido objeto de muitos comentários, em sua maioria negativos. A sua Clô Hayalla, de fato, chama a atenção pelo excesso de caretas e trejeitos. Entendo, porém, que o tom escolhido para a atriz é um dos elementos que garantem o sucesso desta versão da novela.

Como se sabe, na sua primeira exibição, em 1977, "O Astro" conquistou o país por conta do mistério em torno da morte de Salomão Hayalla e, não menos importante, pelo texto escandalosamente dramático de Janete Clair e pela direção explicitamente exagerada de Daniel Filho.

"Nesta novela, trabalhei com o kitsch", ele conta em seu livro des memórias, cujo título, "Antes Que Me Esqueçam", é igualmente grandiloquente. "Eu realmente queria apelar, e procurei fazer dos árabes uma coisa bem extravagante, bem kitsch", diz Daniel Filho.

A nova versão, escrita por Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro e dirigida por Mauro Mendonça Filho, atualiza a trama com muita competência, mas também reverencia Janete Clair e Daniel Filho em vários aspectos.

Vejo a interpretação de Regina Duarte como uma espécie de referência para os demais atores. O seu exagero seria o ponto máximo permitido, abaixo do qual todos os demais devem encontrar o seu tom.

A exagerada Clô, desta forma, é uma espécie de baliza, que ajuda tanto os atores reconhecidamente talentosos, como Marco Ricca (Samir), Rosamaria Murtinho (Magda) ou Antonio Calloni (Natal), quanto aqueles mais inexperientes, como Rodrigo Lombardi (Herculano), Thiago Fragoso (Marcio) e Alinne Moraes (Lili) a encontrarem os seus respectivos "lugares" na constelação kitsch de "O Astro".

O único ator da trama que, a meu ver, erra o tom em algumas cenas e ultrapassa o limite do exagero dado por Regina Duarte é Humberto Martins, como o Neco.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.