Topo

Discurso apolítico de Dinho e “merchan” de Kiedis: isso é rock?

Mauricio Stycer

25/09/2011 15h42

Dois momentos chamaram a atenção na segunda noite do Rock in Rio. O primeiro foi a comoção causada pelo Capital Inicial ao cantar "Que País É Este?", de Renato Russo. O segundo, a performance de Anthony Kiedis, do Red Hot Chili Peppers.

Dinho Ouro Preto levou a plateia ao delírio, antes de cantar a música, ao fazer um breve discurso de cunho "político". "Todo governo é ruim", disse, antes de "dedicar" a canção ao senador Jose Sarney, que foi "homenageado" pelos presentes com um coro de palavrões.

Disse Dinho: "A gente descobriu que gostava de falar mal de qualquer governo. Fosse ele de direita ou de esquerda, todos são iguais. A regra básica é: nunca confie em político".

Alguém disse que Dinho sempre teve essa postura "anarquista". Na minha opinião isso é "anarquismo de boutique". É um discurso infantil, apolítico, que rebaixa a discussão ao pior nível possível. Lamentável.

Já Anthony Kiedis mostrou que a rebeldia hoje é aparecer diante de 100 mil pessoas ao vivo, e de milhões na televisão, usando camiseta com propaganda de cerveja. E pior, de marca concorrente à da patrocinadora do festival.

O vocalista do Red Hot Chili Peppers passou a maior parte da performance com uma camiseta promocional da Brahma, que patrocinou um show da banda no Peru. As câmeras da Globo, que transmitiam o evento, lutavam desesperadamente para não  mostrar a marca e fazer propaganda gratuita para uma concorrente da Heineken, a patrocinadora do Rock in Rio.

Isso é rebeldia? Muito triste se o discurso de Dinho e a atitude de Kiedis são o que o rock tem de melhor para mostrar hoje dia.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.