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22 dias em Guadalajara

Mauricio Stycer

31/10/2011 07h15

O Pan de Guadalajara foi, para mim, muito divertido e sem rotina. Tive a oportunidade de acompanhar 23 diferentes modalidades esportivas. Fui apresentado ao raquetebol, assisti pela primeira vez na vida a uma partida de badminton, conheci o "coroa" do boliche e as simpáticas "anônimas" do caratê.

O Pan me permitiu acompanhar de perto dramas e histórias incríveis de superação.  De todas, a mais comovente foi a da jogadora Maurine, do futebol feminino, cujo pai morreu quando ela estava em Guadalajara. Também me impressionou muito a força de vontade do cavaleiro Jesper Martendal, que ganhou medalha de bronze três meses depois de uma fratura exposta na perna. E não pude deixar de festejar, como todo mundo, o triunfo do patinador Marcel Stürmer, que ganhou o ouro depois de ter tido os seus patins roubados na véspera do Pan.

Também vi muita desorganização e despreparo da parte dos Jogos. Fiquei assustado com a atleta de bicicross (BMX), que contou ter medo de saltar e disse que seu técnico a orienta por e-mail . Achei muito estranho o regulamento esdrúxulo do squash, que obrigou Brasil e Argentina a disputarem um jogo que não valia nada. E fiquei perplexo com o desempenho da seleção masculina de futebol, que empatou com Cuba e perdeu da Costa Rica. Aliás, em matéria de despreparo, o basquete masculino não ficou atrás, como revelou, com impressionante sinceridade, o técnico Ruben Magnano ao fim de um vexame em quadra.

Vi um atleta de taekwondo ganhar medalha depois de apenas duas lutas, uma vitória e uma derrota.  E presenciei o "barraco" entre uma boxeadora e seu técnico depois da sua única luta, uma derrota, que também lhe valeu uma medalha de bronze.

Testemunhei uma partida de tênis com nenhum espectador; assisti um brasileiro sofrer um acidente assustador, mas felizmente sem gravidade, no trampolim; vi o cansaço e a satisfação do atleta brasileiro que terminou  a marcha de 50 km em quinto lugar. Estive na prova de ciclismo de rua, tentei explicar o significado de duas provas estranhas, chamadas Omnium  e Keirin.

Estive, ainda, em eventos mais tradicionais, como handebol nataçãotiro e vôlei. Se, por um lado, tive o prazer de entrevistar Romário, por outro, tive o desprazer ver o cavaleiro Rodrigo Pessoa dar as costas para mim, irritado com algo que fui orientado pela organização a fazer.

Também falei muito de televisão, como o leitor do blog deve ter acompanhado, em especial a cobertura da Record, com seus exageros, a acusação de uso ilegal de imagens, o reconhecimento da Globo do seu erro, a reclamação de atletas por mais visibilidade e as consequências do fracasso do futebol para os planos da emissora que transmitiu os Jogos . Por fim, nesta segunda-feira, publiquei uma entrevista com Honorilton Gonçalves, vice-presidente da Record, com um balanço da emissora do seu trabalho em Guadalajara e críticas duras à Globo por sua omissão no período.

Só não deu tempo de conhecer Guadalajara. Até a próxima.

Em tempo: Veja dez fatos para lembrar e dez razões para esquecer do Pan-2011 num ótimo infográfico do UOL Esporte.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.