Em entrevista promocional de 50 minutos com Boni, Jô não lembra da briga feia que tiveram
Mauricio Stycer
29/11/2011 16h26
Boni conta como conheceu Jô, em 1960, como o tirou da Record, no final de 1969, e descreve o sucesso dos programas que ajudou o humorista a fazer na Globo ("Faça Humor, Não Faça a Guerra", "Satiricon", "Planeta dos Homens" e "Viva o Gordo").
Na última página, Boni fala da saída de Jô em direção ao SBT, no final de 1987, para apresentar um talk-show e o seu programa de humor. "Fiquei magoadíssimo com o Jô e com o Max Nunes (redator dos programas do humorista) porque, além de não querer perdê-los, tinha com eles uma profunda relação de amizade e me senti traído. Gritei, fiz ameaças, mas prevaleceu o carinho que sempre tive pelos dois", escreve Boni.
"Quem sair da emissora sem ter sido mandado embora corre o risco de não poder mais trabalhar em comerciais sob a ameaça que estes lá não serão veiculados", disse Jô.
"Que as chamadas do 'Gordo ao Vivo' (espetáculo que apresentava então no Rio) não passariam na emissora eu já sabia desde outubro pelo próprio Boni, que me disse, em sua sala, quando fui me despedir: 'Já mandei tirar todos os seus comerciais do ar. Chamadas do seu novo show no Scala 2 também esquece. Estou vendo como te proibir de usar a palavra 'gordo'. Claro que esta última ameaça ficou meio difícil de cumprir. A megalomania ainda não é lei fora da Globo", prosseguiu.
E completou: "Finalmente eu gostaria de dizer que Silvio Santos foi tremendamente injusto quando chamou Boni, numa entrevista, de 'office-boy de luxo'. Nenhum office-boy consegue guardar tanto rancor no coração".
Em 2000, três anos depois da saída de Boni do comando da Globo, Jô voltou a trabalhar na emissora, então sob a direção de Marluce Dias da Silva, e levou para lá o seu programa de entrevistas, que apresenta até hoje.
Como todos sabem, Boni e seu livro foram o tema de dois blocos do "Programa do Jô" nesta segunda-feira. O executivo contou muitas histórias, foi paparicado por Jô de todas as maneiras, e retribuiu com inúmeros elogios ao apresentador.
Curiosamente, o assunto mais picante, a briga dos dois, citada por Boni em seu livro, não foi mencionado em nenhum dos 50 minutos da entrevista. Como tem ocorrido com frequência cada vez maior, a entrevista serviu a um propósito puramente promocional. Uma chatice só, que poderia ter sido ao menos atenuada se o entrevistador quisesse.
Em tempo: A entrevista de Jô com Boni pode ser vista aqui. O discurso que o apresentador leu ao receber o Troféu Imprensa no SBT, em 1988, pode ser visto abaixo:
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.