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Programa reduz a história da telenovela às produções da Globo

Mauricio Stycer

10/12/2011 06h01

A data é relevante e a homenagem tinha tudo para ser "inesquecível", como prometeu Sergio Chapelin: um "Globo Repórter" sobre os 60 anos da telenovela no Brasil. Resultou, infelizmente, numa espécie de "Video Show" dedicado a tecer loas à produção da própria emissora.

Exibida duas vezes por semana, na TV Tupi, "Sua Vida me Pertence", de Walter Forster, estreou em 21 de dezembro de 1951. Gloria Maria disse o título da novela, citou o famoso beijo de Vida Alves em Forster, entrevistou a atriz (foto acima), mas conseguiu não mencionar o nome da Tupi.

É verdade, e ninguém contesta, que a Globo, a partir de 1965, se tornou a principal produtora de novelas do país. Deu uma cara ao gênero, estabeleceu um padrão e virou uma referência. Mas o que aconteceu nos 14 anos anteriores? E as muitas novelas importantes realizadas fora da Globo nestes 60 anos? E as produções da própria emissora em sua fase pré-histórica?

Com exceção de uma rápida menção ao clássico "Beto Rockfeller", o programa sugeriu que a história da telenovela no Brasil é a história das novelas feitas pela Globo a partir da década de 70.

Mal começou o "Globo Repórter", Chapelin perguntou: "O Brasil é ou não é o país da novela? Ela é ou não é a paixão nacional?" Não houve respostas para estas questões.

Em compensação, vimos muitas cenas das atuais novelas da casa, em especial "A Vida da Gente" e "Fina Estampa", além de entrevistas com nomes emblemáticos do cast da emissora – Francisco Cuoco, Regina Duarte, Tony Ramos, Gloria Pires, Mariana Ximenes, Cauã Raymond e Lima Duarte. Este último, por sinal, derramou-se em elogios a Roberto Marinho.

Nenhum autor, nenhum diretor, nenhum executivo. Além dos atores, o "Globo Repórter" ouviu "operários da magia", segundo Chapelin: uma costureira, uma figurinista, um cenógrafo. Ou seja, um programa raso, pouco preocupado em ir além do óbvio e muito "chapa-branca".

Um programa, aliás, bem aquém do próprio padrão de qualidade que o "Globo Repórter" exibiu um dia. Basta assistir ao programa feito para lembrar os primeiros 40 anos da telenovela, disponivel no site da emissora, exibido originalmente em 1991. A diferença é gritante.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.