Veja a diferença entre um âncora e um leitor de notícias
Mauricio Stycer
16/01/2012 10h30
Pressionado por uma repórter do SBT, o secretário de Obras de Luiziânia se enrolou todo ao explicar o fiasco nas obras de prevenção a enchentes da cidade. "Criticar é fácil, agora fazer as coisas no período de chuvas é difícil", ele disse. Um dos culpados, acrescentou o secretário, é a imprensa. "Ao invés de ajudar, ela não deixa a gente trabalhar. Eu tô desde ontem só no telefone e dando entrevista (…) e isso aí atrapalha o serviço da gente".
Ao fim do VT, Neila não consegue esconder sua revolta e desabafa ao vivo: "Gente, me desculpa, mas dizer que a imprensa atrapalha? Esse buraco onde caiu o caminhão, que vocês viram na matéria, foi anunciado por nós. (…) Não fizeram por culpa da imprensa? Como assim?" E disse ainda: "Por que não fez na época da estiagem? Já ouviu falar em prevenção?"
Chico Pinheiro, fã de samba e futebol, assumiu o lugar de Renato Machado, especialista em vinhos, no comando "Bom Dia Brasil", e passou o final do ano lamentando o desempenho das equipes mineiras no Brasileirão. Cesar Tralli, agora no comando do "SP TV", foi ao camarim de Zezé di Camargo e Luciano falar sobre as botas novas dos cantores e chamou o mais novo de "Lu".
Sandra Annenberg, no "Hoje", transformou uma gafe ("Que deselegante!") em bordão. Seu companheiro, Evaristo Costa, fez sucesso com uma piada de criança ("gosta de mamão, Sandra?)". Já William Bonner e sua companheira de bancada, primeiro Fátima Bernardes, depois Patrícia Poeta, se especializaram em ler notícias trocando olhares.
Bonner, Sandra, Evaristo & Cia podem fazer gracinhas ao vivo, mas evitam (ou são impedidos de) opinar, elogiar, manifestar indignação com o noticiário ou se posicionar diante de fatos que merecem mais do que um relato básico. Faz muita diferença, como você pode ver abaixo, na intervenção da âncora do SBT. É só um buraco de rua e um secretário sem noção, mas faz toda a diferença:
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.