Topo

Biógrafos de Serginho Chulapa e Neto correm riscos que livro sobre Marcos evita

Mauricio Stycer

26/01/2012 11h38

Três biografias recentemente publicadas, dos ex-jogadores Marcos, Serginho Chulapa e Neto, mostram que o mercado editorial, apesar de receoso com as consequências legais, vê interesse e potencial neste tipo de trabalho.

Como se sabe, até hoje a legislação brasileira dá margem a que biografados e herdeiros consigam na Justiça impedir a circulação de biografias não autorizadas. Isso tem inibido alguns trabalhos ou impedido a circulação de outros, como é o caso de "Roberto Carlos em Detalhes", de Paulo César Araújo.

Dos três livros, dois contaram com a autorização e ajuda de seus biografados. O mais surpreendente é "O Artilheiro Indomável – As incríveis histórias de Serginho Chulapa" (Publisher Brasil, 128 págs., R$ 27), de Wladimir Miranda. O outro, não menos interessante, "Eterno Xodó" (Primavera Editorial, 232 págs., R$ 45), de Renato Nalesso e Fabrício Bosio, foi publicado originalmente em 2002 e acaba de ganhar uma edição atualizada. Já "São Marcos de Palestra Itália" (Realejo Livros, 304 págs., R$ 49,90), de Celso de Campos Jr., está sendo anunciado como uma "biografia não autorizada".

Os três personagens cumprem o requisito número um para uma biografia: são donos de trajetórias profissionais notáveis, repletas de episódios gloriosos e acidentes de percurso dramáticos.

Seus biógrafos, todos jornalistas, cumpriram o requisito número dois: pesquisaram a vida de seus personagens antes de escrever.

Com acesso a Neto, Nalesso e Bosio não apenas o entrevistaram como também ouviram vários colegas – amigos e inimigos.  Miranda, igualmente, além de entrevistar Serginho, recolheu alguns depoimentos de contemporâneos do atacante. Campos Jr., aparentemente, não entrevistou ninguém (ele informa que Marcos não colaborou com seu trabalho).

Sem acesso ao personagem principal e, provavelmente, receoso das implicações legais de seu trabalho, Campos Jr. se limitou a publicar em um catatau de 300 páginas o resultado de sua pesquisa nos jornais. "São Marcos", na minha opinião, está muito longe de poder ser chamado de uma "biografia não autorizada". É apenas uma pesquisa feita em jornais, apresentada de forma cronológica, sobre o ex-goleiro do Palmeiras.

Diferentemente de um repórter, obrigado no dia-a-dia a reproduzir declarações e descrever fatos, um biógrafo não pode, simplesmente, publicar um amontoado de fatos. Ele tem a obrigação, creio, de buscar algum sentido na trajetória de seu personagem. E, se tiver coragem, pode até fazer juízos sobre o biografado. É um trabalho de risco, mas necessário, para justificar um livro.

Ao relatar o papel do violento pai na educação de Serginho, Wladimir Miranda cumpre o seu papel como biógrafo. Ele não é psicólogo, nem se arrisca neste campo. Não diz que o atacante cometeu desatinos ao longo da carreira por causa do pai, mas ajuda o leitor a refletir sobre o assunto.

Renato Nalesso e Fabrício Bosio também se debruçam sobre a infância de Neto na busca de respostas para a sua trajetória incomum, de rebeldia diante de quase todos os técnicos que o dirigiram.

"O Artilheiro Indomável" e "Eterno Xodó" não são livros laudatórios, bajuladores, dispostos a transformar seus personagens em santos. Apenas por isso já merecem todos os aplausos.

Ambos, porém, padecem das limitações impostas a este modelo de "biografia autorizada". Não mergulham tão profundamente no assunto quanto seus autores dão a entender que poderiam.

Serginho e Neto foram jogadores excepcionais em todos os sentidos. Suas biografias ajudam o leitor a se lembrar ou descobrir isso. Mas estão longe, como a biografia de Garrincha, por exemplo, de dar conta de um quadro tão complexo e multifacetado como são todas as vidas. É isto que se espera de um livro deste tipo.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.