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A "arte da embromação" nos programas vespertinos

Mauricio Stycer

17/02/2012 10h18

Comentei a cobertura do caso Eloá em texto publicado na noite de quinta-feira no UOL Notícias, que reproduzo abaixo.

A maratona do julgamento de Lindemberg Alves terminou mal para as emissoras de televisão que exploraram o caso de todas as formas possíveis. À espera da sentença, que demorou algumas horas para ser lida, Record e Band permaneceram no ar ao vivo e se perderam em repetições infinitas.

Foi um show de humor involuntário, comandado por Reinaldo Gottino e José Luiz Datena. Do alto do helicóptero da Record, o comandante Hamilton repetia, a cada cinco minutos. "A expectativa é muito grande."

Sem ter o que falar, enquanto aguardavam a sentença, os jornalistas se esmeravam em detalhes desimportantes: "Carro entrando na garagem", dizia Datena, enquanto a câmera da Band mostrava um carro entrando de ré na garagem do Fórum de Santo André.

"Tá vendo aquela perua branca, Gottino?", perguntou a repórter da Record enquanto a câmera mostrava uma perua branca. "Tô vendo", respondeu o apresentador. "Pois é, aquela perua branca é que faz o transporte dos jurados."

A certa altura, Datena se irritou com os seguidos atrasos na divulgação da sentença. "Já mudaram", reclamou. "Se não vão esperar o Jornal Nacional…", disse, sugerindo que a leitura pudesse coincidir com o começo do telejornal da Globo –o que não ocorreu.

"A juíza está agora fazendo as contas", explicou alguém na Record. "O áudio, nós vamos mostrar ao vivo", disse a repórter, querendo dizer que a emissora transmitiria o som, sem imagens, da leitura da sentença.

"Daqui a pouco é meia-noite e a gente tá aqui falando", observou Datena, impaciente, antes de prometer: "Eu vou dar um pulo de alegria aqui se esse cara pegar uma cana lascada". Não deu tempo. O programa do apresentador acabou antes.

Durante a leitura feita pela juíza Milena Dias, a RedeTV! inovou. A emissora, que transmitia ao vivo a partida entre Porto e Manchester City, dividiu a tela em dois. Numa metade, continuou mostrando o jogo; na outra, exibiu cenas do caso Eloá e a voz da juíza. Deu para ver o segundo gol do Manchester.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.