Chico para ouvir em silêncio
São 21h55 quando Chico Buarque entra no palco do HSBC Brasil, em São Paulo. Camisa de manga comprida preta, calça preta, tênis e meia pretos, caminha com passos rápidos até o microfone, olha rapidamente para a plateia e canta "O Velho Francisco", linda canção em que desfia as memórias de um ex-escravo: "Quem me vê, vê nem bagaço / Do que viu quem me enfrentou / Campeão do mundo / Em queda de braço / Vida veio e me levou".
Encerrada a primeira música, fala com o público. "Obrigado. Boa noite, São Paulo. Boa noite". E mais nada. Emendando uma na outra, canta quase todas as músicas do novo CD. O público acompanha em silêncio, aplaudindo brevemente, na expectativa de cantar junto com o músico os seus maiores sucessos.
Mas Chico oferece poucas oportunidades para os fãs transformarem seu show num "karaokê". É verdade que canta "Bastidores", "Teresinha", "Anos Dourados" e "Ana de Amsterdã", mas foge do óbvio, o que é louvável.
Tímido e tenso, como é de sua natureza, Chico demora um pouco a soltar a voz. Já assisti a vários shows seus e, como sempre, ele nunca parece totalmente à vontade no palco. Sentado num banquinho quase o tempo todo, transforma o espetáculo num recital tranquilo, que exige contemplação, mas não permite participação.
Quando canta "Cálice", incorpora os versos que o rapper Criolo fez para a música ("Pai, afasta de mim a biqueira") e deixa parte da plateia perplexa. Depois de "Geni", volta a falar brevemente, para apresentar os músicos que o acompanham, os mesmos de décadas. Todo de branco e chapéu de palha, o baterista Wilson das Neves canta com Chico "Sou Eu".
No momento mais divertido do espetáculo, Chico e Wilson das Neves duelam pela mesma mulher na deliciosa "Tereza da Praia", de Tom Jobim. "É da praia / Não é de ninguém / Não pode ser tua / Nem minha também / Tereza / É da praia".
Chico aceita o chapéu do baterista e leva o show até o fim, novamente sentado. Volta para um bis, depois volta para um segundo bis, sem falar nada – nem mesmo uma palavra sobre o amigo Lucio Dalla, morto na manhã de quinta-feira. No momento de maior descontração, ao fim do último bis, agradece aos fãs com uma breve corridinha pela extensão do palco e vai embora.
Em tempo: Com ingressos lotados para todos os shows da turnê em São Paulo, o HSBC Brasil exige muita paciência do público. Além dos preços exorbitantes (R$ 5 uma água, R$ 7 uma lata de cerveja sem gelo, R$ 30 para estacionar), o ar-condicionado da casa não deu conta do calor e, à saída do espetáculo, pessoas esperaram mais de 30 minutos para receber seus carros.
Leia mais: Um relato do show, a lista completa das músicas e um vídeo com Chico cantando "O Meu Amor" podem ser vistos aqui.
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