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“Casseta & Planeta” e “Pânico”: é possível conquistar novos fãs?

Mauricio Stycer

03/04/2012 14h21

Conversando com Emilio Surita na semana que antecedeu a volta do "Pânico" à TV, ele observou: "Nada na TV dura mais de seis meses". É um exagero, claro. Mas o criador do programa estava querendo chamar a atenção para algo real: a volatilidade do gosto do público.

O mesmo espectador que garante o sucesso de um programa pelo hábito de assisti-lo toda semana, cobra novidades de forma permanente. Esta pressão coloca para todo o criador um dilema natural: renovar sem perder a identidade.

"A Grande Família" é um belo exemplo. O seriado está no ar, com sucesso, há 12 anos. Sempre se renovando, com a entrada e saída de personagens, com tramas mais ou menos mirabolantes, com piadas melhores ou piores, mas sem perder a identidade jamais.

A volta do "Casseta & Planeta" e do "Pânico" num intervalo de dois dias recolocou em pauta esta questão. O "Casseta" estava no ar havia 18 anos quando houve a decisão de interromper o programa. Ficou um ano de "férias" e voltou. O "Pânico" está no ar, sem interrupção, desde 2003.

Ambos trocaram discretamente de título. O primeiro deixou de ser "Casseta & Planeta Urgente" e virou "Casseta & Planeta Vai Fundo". O segundo era "Pânico na TV" e virou "Pânico na Band".

Um parêntesis. Chico Anysio disse em 2007: "Fiquei 36 anos na Rede Globo com um programa que só mudava de título, mas no fundo era a mesma coisa, era eu fazendo tipos, sempre liderando o horário, e sempre sendo o primeiro programa a ser vendido e o melhor vendido a cada ano. Uma coisa gloriosa. Uma carreira que não posso reclamar de nada."

Ao assistir aos dois "novos" programas, procurei pensar basicamente sob esta ótica: foram capazes de se renovar sem perder a identidade? Acho que ambos foram muito bem-sucedidos neste esforço.

Os leitores que opinaram nos dois textos, em sua maioria, não gostaram dos programas. Foram 137 manifestações ao texto Com altos e baixos, "Casseta & Planeta" se renova sem perder a essência  e 359 comentários em Sem necessidade de mudar, 'Pânico' repete qualidades e defeitos na Band.

Estes comentários não têm valor estatístico. Não temos como saber a opinião dos que apreciaram os programas. Eles refletem, em sua maioria, o humor de leitores que desaprovaram as atrações.

Em todo caso, estas críticas negativas me levam a pensar que, ao manter a identidade, o que eu considero uma qualidade, estes dois programas não serão capazes de reconquistar a audiência eventualmente perdida ao longo dos anos nem, talvez, atrair novos espectadores. Vão agradar apenas aos fãs de sempre.  Será suficiente?

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.