“Casseta & Planeta” e “Pânico”: é possível conquistar novos fãs?
Mauricio Stycer
03/04/2012 14h21
O mesmo espectador que garante o sucesso de um programa pelo hábito de assisti-lo toda semana, cobra novidades de forma permanente. Esta pressão coloca para todo o criador um dilema natural: renovar sem perder a identidade.
"A Grande Família" é um belo exemplo. O seriado está no ar, com sucesso, há 12 anos. Sempre se renovando, com a entrada e saída de personagens, com tramas mais ou menos mirabolantes, com piadas melhores ou piores, mas sem perder a identidade jamais.
Ambos trocaram discretamente de título. O primeiro deixou de ser "Casseta & Planeta Urgente" e virou "Casseta & Planeta Vai Fundo". O segundo era "Pânico na TV" e virou "Pânico na Band".
Um parêntesis. Chico Anysio disse em 2007: "Fiquei 36 anos na Rede Globo com um programa que só mudava de título, mas no fundo era a mesma coisa, era eu fazendo tipos, sempre liderando o horário, e sempre sendo o primeiro programa a ser vendido e o melhor vendido a cada ano. Uma coisa gloriosa. Uma carreira que não posso reclamar de nada."
Ao assistir aos dois "novos" programas, procurei pensar basicamente sob esta ótica: foram capazes de se renovar sem perder a identidade? Acho que ambos foram muito bem-sucedidos neste esforço.
Os leitores que opinaram nos dois textos, em sua maioria, não gostaram dos programas. Foram 137 manifestações ao texto Com altos e baixos, "Casseta & Planeta" se renova sem perder a essência e 359 comentários em Sem necessidade de mudar, 'Pânico' repete qualidades e defeitos na Band.
Estes comentários não têm valor estatístico. Não temos como saber a opinião dos que apreciaram os programas. Eles refletem, em sua maioria, o humor de leitores que desaprovaram as atrações.
Em todo caso, estas críticas negativas me levam a pensar que, ao manter a identidade, o que eu considero uma qualidade, estes dois programas não serão capazes de reconquistar a audiência eventualmente perdida ao longo dos anos nem, talvez, atrair novos espectadores. Vão agradar apenas aos fãs de sempre. Será suficiente?
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.