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Slogan do Fox Sports, “torcemos juntos”, pode confundir o espectador

Mauricio Stycer

24/05/2012 16h41

Para quem lida com informação esportiva, em qualquer mídia, seja TV, internet, rádio ou jornal, nada é mais delicado do que a paixão do torcedor. Numa transmissão esportiva, narradores, comentaristas e repórteres estão sob a permanente avaliação de quem consome, apaixonadamente, o esporte.

Parece claro, por isso, que o novato canal Fox Sports fez uma má escolha ao adotar como slogan a frase "torcemos juntos". Não sou especialista em marketing, mas vou me aventurar e dar alguns palpites a respeito.

Por trás da ideia de "torcemos juntos" parece estar um convite ao espectador: no Fox Sports você vai encontrar não apenas uma cobertura apaixonada, mas cúmplice do seu clube ou esporte favorito.

No convite "torcemos juntos" está implícita a ideia de que o canal tem um lado, o do torcedor, mas dá margem a uma ambigüidade fatal, já que, sempre, qualquer que seja o esporte, há dois times ou dois atletas se enfrentando.

Na transmissão, por exemplo, de Corinthians e Vasco, na noite de quarta-feira, fiquei com a impressão que o comentarista da emissora, Paulo Lima, tinha mais simpatia pela equipe carioca do que pela paulista. Estava "torcendo junto" com os vascaínos…

No primeiro tempo, quando Emerson perdeu uma chance clara de gol para o Corinthians, Lima criticou a defesa vascaína: "Esse tipo de desatenção é que não pode". Quando Thiago, do Vasco, se desentendeu com o mesmo Emerson, o comentarista falou: "Não pode entrar na provocação do Sheik".

No segundo tempo, Lima irritou o seu colega de transmissão, o narrador Eder Reis, ao pedir a expulsão do corintiano Jorge Henrique. "Tem que expulsar. No detalhe, fechadinho na câmera, é agressão", disse o comentarista. "Olha, Paulo, me permita discordar. Não foi pra tudo isso", interferiu o narrador. "O torcedor em casa que tire a conclusão", pediu Reis.

Quando Emerson, finalmente, recebeu um cartão amarelo, Paulo Lima disse: "O Tite reclama do quê? Ele reclamou com muita veemência. Quer apitar o jogo".

Repito: estou no terreno da impressão, altamente subjetivo. As observações do comentarista me pareceram ocorrer sempre pela ótica de um vascaíno. E acho que o fato de a emissora prometer "torcer junto" torna ainda mais confusa esta questão tão delicada.

Foto do jogo: Leonardo Soares/UOL

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.