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Novelas de sucesso não precisam de "terremoto", mas sofrem pequenos “tremores”

Mauricio Stycer

28/08/2012 09h12

No seu primeiro ano na Globo, em 1967, Janete Clair foi convocada a "salvar" uma novela que estava confusa e com pouca audiência. Sua solução para "Anastácia, a Mulher Sem Destino" se tornou lendária: um terremoto matou mais da metade dos personagens. A trama deu, então, um salto de 20 anos, e seguiu em frente, bem mais enxuta e clara.

Quanto mais longa uma novela, maior é a preocupação de encontrar jeitos de surpreender o espectador e evitar a monotonia. Contra a "barriga" – aquele momento em que a trama se torna repetitiva e pouco atraente – é preciso produzir algum tremor.

Não precisa ser, necessariamente, um terremoto, como fez Janete Clair, mas convém sacudir a novela. É o que ocorre, neste momento, por coincidência, em três novelas que fazem muito sucesso.

Na que estreou há mais tempo, "Avenida Brasil", a vilã Carminha acaba de deixar a mansão no Divino, onde reinava, para curtir um "exílio" na chácara da família, em companhia da empregada Zezé (acima). Neste ninho, ela tramará a sua vingança contra Nina.

Em outra novela da Globo, "Cheias de Charme", a tentativa de combate à "barriga" acaba de produzir a separação das Empreguetes (esq.), o simpático grupo musical formado pelas ex-empregadas Cida, Penha e Rosário, resultado de uma intriga da rival Chayene.

Já em "Carrossel", no SBT, a "bomba" foi o afastamento da professora Helena, muito querida pelas crianças, e a chegada da professora Suzana (dir.), que vai ser odiada pelos alunos.

Mas os noveleiros não precisam se preocupar. Nenhuma das três novelas sofre dos problemas de "Anastácia". Ao contrário, ostentam bons índices de audiência. Por este motivo, os pequenos tremores em "Avenida Brasil", "Cheias de Charme" e "Carrossel" servem apenas para quebrar a monotonia. Logo tudo voltará ser como antes.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.