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Público está cada vez mais conservador, diz autor de “Insensato Coração”

Mauricio Stycer

08/12/2012 18h30

Gilberto Braga e Ricardo Linhares fizeram uma experiência interessante em "Insensato Coração" (2011), em particular na primeira metade da novela. Em ritmo que lembrou seriados americanos, muitos personagens entraram e saíram da trama rapidamente em participações especiais que duraram poucos capítulos.

Em entrevista ao roteirista Vitor de Oliveira, colaborador da novela "O Astro" e autor do blog Eu prefiro Melão, Linhares conta que a experiência provocou alguma polêmica. "Houve quem visse uma novidade, houve quem reclamasse que esse formato não dava tempo de gerar empatia com os personagens novos". E acrescenta:

O nosso público está cada vez mais conservador e imediatista, quer a trama mastigadinha para entender. Uma novela ousada, inteligente e sensacional como "O Casarão", do Lauro César Muniz, que se passava em três épocas simultâneas, jamais poderia ser feita hoje. O espectador ficaria confuso.

Acho que Linhares levanta uma grande questão aqui, o da coragem de ousar em novelas, mas não concordo com o seu diagnóstico. Não acho que o público esteja mais conservador.

Como o próprio autor reconhece em outro trecho da entrevista, o espectador hoje tem mais condições de questionar as novelas porque dispõe de muito mais fontes de informação. Pelo mesmo motivo, também está muito mais apto a fazer comparações. Está mais esperto.

Em outras palavras, acho que quanto maior a oferta, maior a exigência. Em todo caso, a discussão levantada por Linhares é boa e merece ir adiante.

Em tempo: Escrevi muitos textos no blog sobre "Insensato Coração". Fiz várias restrições à novela, mas não vi problema algum em relação aos personagens de vida curta – uma experiência, de fato, interessante. Caso tenha interesse em ler estes textos, clique na tag "insensato coração" que aparece abaixo.

P.S. Linhares assinará, em 2013, no horário das 23h, a nova versão de "Saramandaia", escrita por Dias Gomes e exibida originalmente em 1976.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.