“Flor do Caribe” vai além do básico e cativa com trama engenhosa
Mauricio Stycer
18/03/2013 19h07
Depois de ver os primeiros sete capítulos de "Flor do Caribe", comecei a elencar os motivos pelos quais estou gostando da novela. Anotei: boa história, diálogos bem escritos, direção sóbria e competente, paisagens deslumbrantes, duas atrizes lindas, um vilão bem mau e carismático…
Olhei para a lista e pensei: mas essas não são características obrigatórias em uma novela? É verdade. Deveriam ser. Mas com freqüência não têm sido.
Pensando na safra muito irregular dos últimos anos, na qual o número de decepções é superior ao de destaques, creio que justifica-se festejar uma novela por oferecer ao espectador ao menos o básico necessário para o entretenimento.
E acho que "Flor do Caribe" vai além do básico. Escrevendo ficção para a TV há mais de 50 anos, Walther Negrão criou uma trama engenhosa, que sugere muitos desdobramentos e, mais importante, já se mostrou cativante. Em poucos capítulos, o autor lançou as iscas necessárias para capturar a atenção do espectador.
É verdade que o próprio Negrão já desenvolveu uma novela com trama semelhante, "Vila Madalena" (1999), como lembrou Nilson Xavier, do blog Teledramaturgia. O autor também não esconde que um aspecto central da história foi adaptado daquele que é uma espécie de pai de todos os folhetins sobre vingança, "O Conde de Monte Cristo", de Alexandre Dumas, publicado originalmente em capítulos num jornal francês entre 1844 e 1846.
Negrão já sugeriu vários desdobramentos da trama principal. O principal envolve o pai da mocinha e o avô do vilão. Samuel (Juca de Oliveira, acima), pai de Ester, nasceu na Holanda em uma família de origem judaica e viu os pais serem levados para um campo de concentração nazista. Joalheiro, é casado com a "cabocla" Lindaura (Ângela Vieira) e
Outras histórias de "Flor do Caribe" também parecem atraentes, ainda que não originais. Há o conflito de gerações e ambições numa família de pescadores, o sofrimento dos trabalhadores braçais das minas de Dionísio, bem como o cotidiano de uma vila dependente do turismo, além do rapaz bobo (José Loreto) que conversa com a cabra.
Além de Grazi Massafera, há a presença igualmente luminosa de Débora Nascimento no papel de Taís, irmã de Cassiano, e uma fotografia que tem tirado o fôlego com a exibição de imagens de praias e dunas do Rio Grande do Norte. Sem exageros, até o momento, a direção de Jayme Monjardim mantém a novela num trilho muito adequado.
A audiência da primeira semana foi pior até que a de "Lado a Lado", a trama anterior, maior decepção no Ibope em muito tempo. A novela de Negrão teve uma média de apenas 16,8 pontos no período. Espero que vá além disso. Posso estar enganado, mas "Flor do Caribe" parece daquelas novelas que vão mexer com o espectador.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.