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Novo “CQC” reforça a confusão entre jornalismo e ficção

Mauricio Stycer

19/03/2013 12h55


Na estreia de Dani Calabresa no "CQC" versão 2013, o que mais me chamou a atenção foi o investimento em dramaturgia. O programa da Band deu vários sinais de que pretende mesmo aprofundar a confusão que já fazia antes entre realidade e brincadeira, entre jornalismo e ficção.

Os primeiros oito minutos da atração foram consumidos com uma espécie de "sitcom", roteirizada, na qual os integrantes do programa interpretaram esquetes cômicos. O tema principal foi o da suposta rivalidade entre a "cabeçuda" Monica Iozzi e a "gorda" Dani Calabresa, mas também teve espaço para Val Marchiori ("Mulheres Ricas") e Sabrina Sato ("Pânico"), além de "brigas" entre os integrantes veteranos. Veja aqui.

Em outro quadro, Ronald Rios, Iozzi e Oscar Filho aparecem "ensinando" Calabresa a fazer entrevistas para o programa. O esquete misturou figuras reais e figurantes vivendo supostos políticos. Primeiro, Calabresa "invade" um camarim na Band e finge surpreender a dupla musical Joelma e Chimbinha. Em seguida, tenta abordar um ator, caracterizado como "Coronel Osiel, deputado federal (PQP-BA)" e, na sequência, outro ator, apresentado como "Uriel Fagundes, prefeito de São João do Rapaquatro (PCC-SP)". Veja aqui.

No Vaticano para a cobertura do conclave que elegeu o novo papa, Felipe Andreolli se fez passar por um jornalista argentino depois do anúncio da escolha de Jorge Bergoglio. Em outra piada, Mauricio Meirelles "entrevistou" Inri Cristo, figurinha carimbada no programa, que abençoou o novo papa.

Como sempre, o programa alternou os quadros cômicos com reportagens sérias. Na mais impactante, Oscar Filho mostrou imagens recentes da mulher que atropelou o estudante Vitor Gurman, em 2011, dirigindo normalmente.

E num momento tipicamente "CQC", Mauricio Meirelles fez uma reportagem sobre o pastor Marco Feliciano, novo presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Depois de entrevistar outra figurinha carimbada, o deputado Jair Bolsonaro, o repórter fez de tudo para ser agredido pelos seguranças de Feliciano. Não conseguiu. Caminhando ao lado do deputado pelos corredores do Congresso, fez uma série de perguntas, mas não obteve nenhuma resposta. Veja aqui.

Num programa jornalístico, o embate de Meirelles com Feliciano teria enorme impacto. No "CQC", apesar de forte, a cena pareceu teatral.

Audiência: Na estreia da temporada 2013, o "CQC" registrou 5 pontos de média, uma audiência não muito diferente da habitual, ficando em quarto lugar, atrás da Globo, que liderou com "Tela Quente", e de Record e SBT, que empataram com 6 pontos.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.