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Com tema pouco atual e aposta no exagero, “Guerra dos Sexos” provocou indiferença

Mauricio Stycer

26/04/2013 20h28

Para além da análise fria dos números de audiência, uma forma de entender o sucesso de uma novela é ouvir o que as pessoas estão falando dela na rua, no trabalho, na escola e, hoje em dia, nas redes sociais. O quase silêncio a respeito de "Guerra dos Sexos", que terminou nesta sexta-feira (26), não pode ser ignorado ao se fazer um balanço deste trabalho de Silvio de Abreu.

Os dados do Ibope são muito duros com o remake da novela, escrita originalmente em 1983 pelo mesmo autor. Foi a pior audiência do horário das 19h. Em entrevistas, Abreu argumentou que "Guerra dos Sexos padeceu dos mesmos problemas sofridos por "Lado a Lado", a última trama das 18h, que também teve audiência sofrível. Ambas foram lançadas durante o horário político, em 2012, indo ao ar mais cedo do que de costume, e também enfrentaram o horário de verão, que "atrasa" a chegada em casa do potencial espectador.

Pode ser. Mas creio que "Guerra dos Sexos" também sofreu por conta da história que tinha para contar e do tom de farsa adotado para apresentá-la ao público. Na minha opinião, foi um projeto errado, que discutiu temas poucos atraentes, e não soube encontrar uma forma convincente para seduzir o público. Isso explica, creio, a indiferença em relação à novela.

Do primeiro ao último capítulo, "Guerra dos Sexos" girou em torno de uma mesma disputa boba, envolvendo a habilidade masculina e feminina de gerir um negócio. A ironia que podia haver nesta discussão há 30 anos não existe mais. Nada pior do que fazer piada sobre um assunto que não está na pauta.

A visão de São Paulo como uma cidade dividida entre uma elite "quatrocentona" e uma periferia "caipira" está totalmente superada. Há 30 anos, talvez fosse perdoável não enxergar que a cidade é muito mais rica e complexa. Hoje, não.

Novidades ou surpresas que a versão original apresentou, como o recurso de personagens falarem com o espectador olhando para a câmera, já foram incorporadas e não chamam mais a atenção.

Também acho que o diretor Jorge Fernando não conseguiu encontrar a medida certa para contar a história. A insistência no exagero, típicos da comédia pastelão e de cinema mudo, soou como recurso fácil, em busca do riso, e resultou repetitivo e canhestro.

Edson Celulari (Felipe, à esq.), por exemplo, passou a novela inteira com a camisa social para fora da calça, o nó da gravata frouxo e a cara de bobo, como se isso fosse o suficiente para caracterizar um "executivo aloprado". Muito bem como vilões em "Passione", Reynaldo Gianecchini (Nando) e Mariana Ximenes (Juliana, juntos na foto acima) não conseguiram convencer como casal romântico em "Guerra dos Sexos". O ator exagerou nos maneirismos e a atriz parecia encenando teatro para crianças. Tony Ramos esteve muito à vontade em seu papel, mas acho que perdeu a medida, também, em vários momentos.

Drica Moraes (Nieta, à dir.) foi, para mim, a melhor coisa da novela. A personagem, uma fofoqueira da Mooca, bairro que abriga muitos imigrantes e descendentes de italianos na zona leste da cidade, inventou uma língua própria, repleta de erros, para falar e divertiu muito. No último capítulo soltou um: "Me tô parindo". Também gostei de Marilu Bueno (Olivia) e de Bianca Bin, como a vilã Carolina. Daniel Boaventura (Nenê) e Debora Olivieri (Semiramis) tiveram boas cenas também.

O autor deixou para o último capítulo a decisão sobre com quem Nando ficaria. O galã escolheu Juliana, deixando o caminho livre para Roberta (Gloria Pires) ficar com Felipe. Outra surpresa foi a participação de Xuxa como Terezinha Romano, uma personagem sempre citada, mas que nunca aparecia. Ao final, a novela prestou mais uma homenagem a Paulo Autran e Fernanda Montenegro, protagonistas da primeira versão, fazendo Tony Ramos e Irene Ravache reencenarem pela segunda vez a briga com comida na cara (no alto, cena da primeira batalha).

Silvio de Abreu é um dos grandes autores da televisão em atividade. Tem mais é que defender sua novela, como fez nesta reta final. Mas não vai conseguir evitar que a segunda versão de "Guerra dos Sexos" seja esquecida rapidamente.

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1. "A guerra do sexos é diária", defende autor
2. Frô (foto) diz que se inspirou nas mulheres "que se acham da Globo" 
3. "Guerra dos Sexos marca a pior audiência do horário das 19h
4. Não vale a pena ver de novo 
5. Autor culpa "inimigos externos" por baixa audiência de "Lado a Lado" em São Paulo
6. 
"Guerra dos Sexos" funcionou mais no drama do que na comédia
7.
Último capítulo não alcança 30 pontos

 

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.


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