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Vida de moradores de rua é tema de ótimo “Globo Repórter”

Mauricio Stycer

11/05/2013 14h18

Há três semanas, escrevendo sobre os 40 anos do "Globo Repórter", lamentei que o programa tenha adotado, já há bastante tempo, uma linha que privilegia a abordagem de assuntos mais leves, como saúde, qualidade de vida, ecologia e turismo, deixando em segundo plano temais mais incômodos e difíceis. Como diz o próprio site da emissora, "com o aumento significativo da audiência do público das classes C e D no final de 1996, o desafio passou a ser tratar de assuntos com apelo mais abrangente".

A reportagem de Gloria Maria que comemorou as quatro décadas, exibida na primeira semana de abril, me pareceu exemplar da linha atual do "Globo Repórter": um programa muito bem produzido, mas panorâmico e superficial, sobre o Vietnã.

Sinto-me na obrigação de registrar que o programa exibido nesta sexta-feira (10) foi em outra direção. Dedicado a um tema duro, a vida de gente que mora nas ruas, o "Globo Repórter" exibiu três boas reportagens, realizadas com sensibilidade, expondo diferentes aspectos deste grave problema social.

O repórter Pedro Bassan experimentou viver sob uma marquise no centro do Rio (dir.). Alberto Gaspar contou a história de Toninha, uma mulher que vaga pelas ruas de São Paulo há pelo menos duas décadas. E Dulcinéia Novaes tratou do caso do ex-modelo Rafael Nunes, o chamado "mendigo gato" de Curitiba, que achou uma saída para o seu drama depois que uma foto sua caiu nas redes sociais. A reportagem promoveu o encontro da fotógrafa que registrou a imagem de Rafael nas ruas com o seu modelo (imagem no alto), hoje internado numa clínica para dependentes químicos.

O programa ainda falou, brevemente, de uma situação assustadora em Goiânia: desde agosto do ano passado, 30 moradores de rua foram assassinados. E terminou com a história edificante de uma mulher que viveu na rua, mas reencontrou o seu caminho.

Entendo a opção que levou o "Globo Repórter" a se tornar um programa mais "leve", deixando para o "Profissão Repórter" a tarefa de enfrentar temas mais espinhosos, mas dá gosto ver bons repórteres envolvidos em assuntos relevantes, como ocorreu nesta sexta-feira.

Meu texto sobre os 40 anos do "Globo Repórter", publicado na "Folha", pode ser lido aqui.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.