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GNT reconhece problemas em séries brasileiras, mas vai continuar investindo

Mauricio Stycer

17/05/2013 12h58

O GNT surpreendeu o público com o lançamento quase simultâneo de quatro séries brasileiras no intervalo de três semanas – "Copa Hotel", "Canalhas", "Surtadas na Yoga" e "3 Teresas". Os planos do canal pago da Globosat seguem ambiciosos. No segundo semestre, mais duas novas séries serão lançadas e vai estrear a segunda temporada de "Sessão de Terapia".

Em entrevista ao UOL, por telefone, a diretora-geral do canal, Daniela Mignani, reconhece que os programas que acabam de estrear têm diferentes padrões de qualidade. "A gente colocou no ar uma série que não é a ideal, mas tem que fazer", diz.

"É uma tentativa hercúlea e árdua. É natural que se tenha uma carência de projetos de ficção. Porque não havia esse mercado. Quando você decide exibir seis séries, você esbarra numa série de dificuldades", diz Daniela.

A diretora considera "3 Teresas" (imagem no alto), dirigido por Luiz Villaça, com Denise Fraga, como o produto mais bem acabado do pacote recém-lançado. "Por que a gente acha que é a melhor? Porque tem um cara que faz isso há muito tempo (Villaça). Tem gancho, todos os personagens têm arco dramático definido… Está tudo lá."

Na visão do canal, é preciso colocar a indústria em movimento: "É a compreensão de que se a gente não estartar (começar), a gente não vai chegar a lugar algum. Quantas séries foram feitas antes de 'The Walking Dead' ou de 'Game of Thrones'? Vamos dar a cara a tapa", diz Daniela (foto à dir.).

A diretora do GNT acrescenta, com elogiável sinceridade: "Fizemos apostas em diferentes gêneros. Para saber o que dá certo. Estamos aprendendo. Estamos num momento de aprendizado. A TV americana está na sua época de ouro. Há quanto tempo eles estão fazendo? Estamos no papel de desenvolver esta indústria. É preciso compreender que a gente está no inicio."

A ideia de lançar tantas séries ao mesmo tempo obedece a uma estratégia de programação. Conseguir visibilidade. "Isso ajuda a criar uma percepção imediata. Uma série semanal, só ela, isolada, se perde na grade."

Esta estratégia foi testada, com sucesso, em 2012, com "Sessão de Terapia". A série, dirigida por Selton Mello, era exibida de segunda a sexta, com episódios inéditos, como em sua versão original. A segunda temporada está programada para estrear em 30 de setembro.

Exibida em dezenas de países, a adaptação feita pelo GNT é motivo de orgulho para Daniela: "Todas as mudanças que fizemos foram aprovadas. Entregamos uma série com padrão gringo. Entregamos uma versão com alto nível de qualidade. Isso mostra que dá para chegar lá."

A diretora do GNT enxerga um nó na produção de séries brasileiras: os roteiros. "Sem querer crucificar os roteiristas, é a dificuldade maior", diz. Em março, a Globosat promoveu uma oficina de roteiros, com a presença de Marta Kauffman, co-autora de "Friends", entre outros roteiristas estrangeiros, destinada a orientar autores brasileiros. "Ideias não faltam", diz Daniela. "Todo dia chega uma ideia mirabolante de série. Não é simples. Muitas ideias e um monte de roteiristas sem experiência".

Segundo a diretora do GNT, a chamada Lei da TV Paga, que obriga as emissoras a exibirem conteúdo nacional em suas grades, não influiu na decisão de investir em séries. "A Globosat sempre investiu em conteúdo brasileiro. O mercado de TV por assinatura está maior. Temos que ser mais ambiciosos."

Em tempo: Episódios inéditos das novas séries do GNT são exibidos uma vez por semana. "Copa Hotel", segunda-feira, às 22h30; "As Canalhas", segundas, às 23h, "3 Teresas", quartas, às 22h30; "Surtadas na Yoga", quartas, às 23h. Este texto foi publicado originalmente aqui, no UOL Televisão. Fotos das quatro séries podem ser vistas aqui.

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Aprender fazendo (coluna na "Folha" sobre as quatro novas séries do GNT)

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.