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Globo e Felipão em clima de final de Copa do Mundo

Mauricio Stycer

16/06/2013 16h30

Dona dos direitos de transmissão da Copa das Confederações, a Globo está dando tratamento de luxo para o evento. Mais de 500 profissionais do grupo estão credenciados para a competição. O investimento em tecnologia é enorme. O assunto está presente não apenas em todos os programas jornalísticos como também nas atrações da área de entretenimento.

O investimento é justificável. A Copa das Confederações é um grande ensaio para a Copa do Mundo de 2014, o evento esportivo mais importante que o Brasil já abrigou (a Copa de 1950 não tinha o tamanho nem o impacto que a competição tem hoje).

O que é difícil de entender neste esforço de cobertura da Globo é o ufanismo exagerado. Assim como o técnico da seleção, Luiz Felipe Scolari, a emissora está adotando um tom patriótico, que destoa totalmente da realidade com que o evento está sendo visto no país. A edição do "Jornal Nacional" de sábado chamou a atenção justamente por este exagero. A respeito, escrevi o texto abaixo, publicado no blog  UOL Esporte Vê TV:

"Parabéns e obrigado", diz Bonner a Felipão em "Jornal Nacional" quase temático

"Uma tarde histórica para o futebol brasileiro", disse o repórter Tino Marcos dando o tom da exagerada cobertura do "Jornal Nacional" na noite de sábado, horas depois da abertura da Copa das Confederações, com vitória do Brasil sobre o Japão por 3 a 0.

O apresentador William Bonner ancorou o telejornal em pé, diante do Brasília Palace Hotel, onde está hospedada a seleção brasileira (e as equipes da Globo e da ESPN). Os cinco blocos do programa trataram da competição.
Bonner elogiou o silêncio do local ("É mais fácil fazer o 'Jornal Nacional' daqui do que daí, Patricia"), mas não mencionou que o hotel proíbe a entrada de fãs da seleção, mantendo-os bem distantes.

Mauro Naves fez uma reportagem mostrando que o técnico Luiz Felipe Scolari não se incomoda de ser chamado de patriota. Na sequência, Claudia Bomtempo mostrou a festa de torcedores que foram ao jogo e, no meio, de passagem, mencionou o violento protesto que ocorreu diante do estádio Mané Garrincha antes do início da partida.

O segundo bloco do "Jornal Nacional" começou com a imagem de Bonner e Felipão diante do hotel. "Parabéns e obrigado", disse o apresentador ao técnico. A entrevista exclusiva, única que o técnico deu desde que a seleção se reuniu para a Copa das Confederações, transcorreu sem maiores revelações e terminou com ambos se cumprimentando.

A repórter Mônica Sanches falou da "alegria que se espalhou pelo Brasil inteiro". A competição ainda foi tema de reportagens no terceiro bloco (sobre a Itália), no quarto (Espanha e Uruguai) e no último (Neymar e Nigéria).

"Acho que por hoje é só", encerrou Bonner, depois de tratar a Copa das Confederações como a competição mais importante do mundo e a vitória do Brasil sobre o Japão um feito digno de final de Copa do Mundo.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.