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Faustão quebra regra da Globo e faz manifestação política no meio do programa

Mauricio Stycer

24/06/2013 02h10

O apresentador Fausto Silva abriu o seu programa neste domingo (23) com um discurso de apoio aos protestos que sacudiram o país nas últimas semanas. O pronunciamento surpreendeu. Primeiro, porque a Globo, como quase todas as empresas, não permite que seus contratados façam manifestações políticas no ambiente de trabalho. E também porque, como outras celebridades que tomaram posições semelhantes nos últimos dias, o apresentador sempre evitou declarações de cunho político.

Abaixo, o discurso de Faustão:

Muitas vezes eu ouvia falar que o jovem brasileiro fica na internet, o jovem brasileiro é alienado… Alienado é o cacete! Esses garotos foram inteligentes, foram corajosos, motivaram todo mundo. Começou com a passagem de ônibus. Mas isso é um pingo de água que transbordou. Aqui cada um tem um assunto pra falar, contra a corrupção, pela honestidade e competência… Outra coisa: acabou aquele negócio no ano que vem: ganha a Copa, você ganha a eleição. Copa do Mundo é uma coisa, eleição é outra coisa. Tem que ter proposta. E agora, com essa virada da página do Brasil, todo mundo vai se informar mais para votar melhor. Por isso eu falo aqui há 500 anos: urna não é penico. Se todo mundo tiver consciência, como a grande maioria que foi às manifestações, vamos fazer o Brasil um país digno para todo mundo.

Posteriormente, durante o quadro "Dança dos Famosos", o ator Tiago Abravanel gritou "acorda Brasil!", uma das palavras de ordem do movimento. O gesto ocorreu após cantar, a pedido de Faustão, "Como Nossos Pais", de Belchior. Dizendo-se emocionada com a canção, a atriz Barbara Paz, que participou do júri da atração, repetiu o grito.

Curiosamente, o avô de Tiago, Silvio Santos, dera uma declaração à "Folha" neste domingo sobre o assunto, criticando a postura dos manifestantes. Questionado pelo repórter Joelmir Tavares se participaria dos protestos caso fosse jovem, o dono do SBT disse:

Não. Eles não têm objetivo, né? Deviam ter um objetivo, deviam pedir alguma coisa. Dizer: "Olha, nós estamos fazendo esse protesto para poder ter uma lei contra os menores de idade [que cometem crimes]". Ou: "Estamos fazendo esse protesto para pelo menos ver se os responsáveis pelo mensalão são punidos". Ah, mas o protesto é sobre tudo. Então não é sobre nada.

Atualizado às 18h30: Recebi da assessoria da Comunicação da Globo a seguinte mensagem: "A Globo exerce a liberdade de manifestação do pensamento em seus programas, produções e eventos, o que está claro no documento de Princípios e Valores da TV Globo no Vídeo. A exceção se dá durante os períodos eleitorais, cujas restrições estão previstas na legislação."

OBSERVAÇÃO: Excepcionalmente, este post está fechado para comentários. 

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.